sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Dudu2

Os Anjos e os Demônios



I

Quando escrevi o post “O Prefeito Metralha” tinha consciência das críticas que receberia.

Mas, quem dá a cara tem de saber conviver com o contraditório.

Aliás, para mim, é aí que reside uma das belezas do jogo democrático: o amor com que tantas pessoas defendem aquilo em que acreditam, mesmo que seja oposto ao que defendemos.

Tenho publicado a maioria das críticas, evitando, apenas, aquelas que são demasiado ofensivas a outrem.

Respeito quem me critica e até agradeço, porque isso instiga à reflexão.

Feliz ou infelizmente, porém, a política não é feita nem por anjos, nem por demônios, mas por seres humanos, com esse infinito de crenças, expectativas e circunstâncias que cada um de nós representa.

No jogo político, como em tudo na vida, somos levados a fazer escolhas.

Escolhas que podem nem ser aquelas que gostaríamos. Mas que se afiguram “o possível”, frente à determinada conjuntura.

II

Ao contrário do que disse um comentarista, não me esqueci do que publiquei acerca de Fernando Dourado.

Ao declarar minha opção por Valéria, não tentei passar um atestado de idoneidade a quem quer que seja. Nem tenho poder para isso.

Penso, também, ter deixado claro que não cultivo simpatias ideológicas pelo DEM.

Respeito, porém, as opções dos autodenominados democratas.

Mais não seja, porque “ver o mundo”, digamos assim, e expressar opiniões é direito básico. Implícito, aliás, à própria condição humana.

III

Aprendi, ao longo destes anos, que a eficácia do nosso jogo, no âmbito político, depende, em primeiro lugar, de sabermos identificar o inimigo principal.

Ninguém, nesta grande mesa que é a política, consegue alguma coisa isoladamente; é preciso respeitar, negociar.

E a base dessa negociação, além, é claro, de um projeto estratégico, é a identificação do inimigo comum conjuntural.

Não adianta ficar reclamando da vida, dizendo que todo mundo é farinha do mesmo saco: metralhadoras giratórias têm vasta repercussão folclórica, mas nenhuma conseqüência histórica.

É preciso optar. E nem sempre pelo melhor. Mas, na maioria das vezes, pelo menos pior...

IV

Quem é melhor ou menos pior: Valéria ou Duciomar?

Tudo bem: nós, de esquerda, realizemos aquela catarse básica...

Arranquemos os cabelos, imploremos aos céus... Digamos: “Senhor, Senhor, como chegamos a esse ponto?”.

Nada – rigorosamente nada - conseguirá alterar a conjuntura que está aí.

Podemos discordar do DEM, ter mil reservas em relação ao Vic. Mas, ainda assim, persistirá a pergunta: quem é melhor ou menos pior?

E não adianta vir com Mário Cardoso, Suely, Edílson ou até mesmo Jatene.

São melhores ou menos piores?

Mas, além disso – e é isso que acaba sendo definidor – qualquer deles tem condições de se bater, com alguma chance de vitória, com o prefeito Metralha?

Vejam bem: não estou falando como tucana, filiada ao PSB, que joga com o PMDB, admira candidato do PT e que está disposta a apoiar o PFL...

Não é como uma “contradição”, como me chamou um anônimo.

Até porque não vejo nisso contradição: vejo capacidade de conviver e de ir além dos interesses de efêmeras lideranças partidárias...

Falo como cidadã de Belém. Como alguém que vive aqui porque quer e precisa viver.

Falo como alguém que nutre um profundo amor por esta cidade.

Como alguém que se recusa a ser simplesmente “rifada”, porque o jogo deste ou daquele partido exige que se rife, neste momento, 1,6 milhão de pessoas.

Falo como mãe, que não quer ver a filha adoecer de dengue.

Falo como ser humano, que não agüenta mais ver gente morrendo em posto de saúde, enquanto dois ou três bandidos metem dinheiro público no bolso.

V

Por que Valéria é melhor ou menos pior que Duciomar?

Em primeiro lugar, porque nada é pior que Duciomar.

Ele é o sujeito que desceu tanto o nível da roubalheira, da patifaria, que não é possível encontrar exemplo anterior. Ele é, simplesmente, o mau exemplo de si mesmo.

A coisa que nos leva a buscar comparações com um vírus, um bando, uma horda, naquela tentativa básica de racionalizar.

E eu me pergunto – mesmo tendo em mente que inexistem anjos e demônios neste jogo – como é possível que nós, sociedade, tenhamos parido algo assim?

Esse sujeito é um psicopata guindado à condição de agente político. E só.

Para ele, são normalíssimas todas as aberrações: desde falsificar diploma – e, “eventualmente”, cegar alguém - até deixar morrer crianças, pais, mães em posto de saúde.

Para ele, inexiste uma característica básica das pessoas: a capacidade de se identificar com o outro, com a dor do outro...

Para ele, e para os demais psicopatas que o rodeiam, só existe o interesse próprio: o prazer que lhes é dado pela apropriação de um dinheiro que pertence a todos nós.

VI

Valéria não merece ser comparada a isso.

Com todas as restrições que tenho ao DEM e ao Vic, tenho de admitir que ela possui qualidades importantes.

Algumas, aliás, até espelhadas em práticas de que discordo. Como o assistencialismo sincero, que eu sei que não leva a lugar algum - mas que ela acredita importante.

É engraçado. Quando eu trabalhava na Funcap, em 1997, discutíamos justamente isso: a diferença entre políticas emancipatórias e assistencialistas.

E eu me recordo das queixas de alguns técnicos, acerca da falta de algum assistencialismo, em meio às políticas que os tucanos tentávamos imprimir.

O problema é que nos deparávamos, muitas vezes, com crianças que estavam em abrigos da Funcap porque a família não possuía, por exemplo, banheiro em casa.

E a gente ficava pensando a falta que fazia um bocadinho de assistencialismo. Afinal, a construção de um banheiro poderia representar, ao menos, o aconchego de um lar.

Não mudaria nada na condição miserável dessas famílias.

Mas, certamente, apagaria daquela criança as marcas da institucionalização.

Para nós, classe média, é difícil entender a importância de um banheiro, até porque é algo tão presente em nossas casas que nem pensamos nisso.

Mas, infelizmente, a maioria da nossa gente vive que nem bicho...

VII

Valéria tem essa sensibilidade, essa capacidade de identificação com as pessoas pobres.

Tenho pra mim que, se ela fosse a prefeita, aquele cidadão que agonizou duas horas diante das câmeras, não teria morrido.

Em último caso, ela mesma apareceria ali com um médico ao lado.

Não penso como ela. Mas tenho de reconhecer a sensibilidade que ela tem.

E isso, certamente, já a faz muito melhor que o Dudu...

Pode-se argumentar que ela faz isso por politicagem.

Como quando insistiu em levar o “Presença Viva” a todo o estado. E em entregar, pessoalmente, os óculos, o receitório, as certidões.

É possível... Mas, infelizmente, tenho para mim que é bem pior: ela crê, de fato, nisso...

Valéria acredita nos óculos, na certidão, na cesta básica, como coisas, de fato, decisivas para essas pessoas...

Não entende a diferença entre benesse e direito.

Por isso, sempre, a longo prazo, estaremos em campos opostos.

Mas, tenho de reconhecer que esse é um diferencial a favor dela.

Exatamente como o diferencial a favor dos comunistas: são pessoas que acreditam na bondade humana...

VIII

É inevitável que me coloque na defensiva sempre que alguém tenta creditar a um homem poder decisório sobre uma mulher.

Já vi mulheres acreditarem nisso. Mas eu, jamais, conseguirei ver a nós, mulheres, como alguma coisa manobrável.

Somos, infinitamente, mais inteligentes.

Construímos algumas das conquistas fundamentais da humanidade, como a cerâmica, a agricultura, a linguagem, a cultura.

Desenvolvemos elaboradas técnicas de sobrevivência, em meio ao massacre da força bruta.

Tenho para mim, portanto, que ao invés de sermos manobráveis, sabemos é manobrar.

Sabemos usar a imagem, o que se espera de nós; o papel social que insistem em nos reservar.

Em nós, a negociação tornou-se quase que um ganho biológico...

Nestes meus 46 anos nunca conheci mulher “dominada” por homem.

Vi mulheres que regateiam, o que eu jamais regatearia, por causa de uma forma de ser em que acreditam, por “n” fatores.

Vi mulheres que têm medo de seguir em frente – menos por questões econômicas e mais pelo que, culturalmente, foram levadas a desejar.

Mas, jamais vi mulher que decidindo, não tentasse “acontecer” – e por causa disso, aliás, muitas de nós são assassinadas, todo santo dia...

Possuímos, todas, essa força.

Por isso, da mesma forma que não acredito que o tal piloto manobrasse a Ana Júlia, não acredito que o Vic manobre a Valéria.

É verdade que são histórias diferentes, visões diferentes.

Uma abriu caminho sozinha.

Outra vem abrindo caminho a partir de.

Uma vem dos movimentos sociais; outra, dos chás beneficentes...

Mas, todas, vamos nos encontrar lá na frente...

E o engraçado é constatar as semelhanças.

Ana nomeou um mundo de mulheres, inclusive uma secretária de segurança, que deixa a macharada de cabelo em pé.

Valéria tinha um mundo de assessoras. E era tanta mulher, tanta mulher que, maninhos, confesso que até me incomodava...

A gente olhava prum lado e pra outro e mal via um macho... Que coisa horripilante!...

Já bebi demais; no final de semana continuo essa postagem, a falar sobre as possibilidades da Valéria enfrentar – e talvez derrotar – esse prefeito Metralha.

Mas, acho bacana acabar falando de nós.

De quem somos, meninas...

E de tudo o que já conseguimos conquistar...

FUUUUIIII!!!!

10 comentários:

Anônimo disse...

Ana Célia, Ana Célia, só para lembrar o nosso prefeito Duciomar Costa tinha uma política assistencialista antes de ser prefeito. Você deve lembrar das consultas, dos óculos, das certidões, dos ônibus e por aí vai. Pelo que você colocou no seu post, veio a lembrança de todo o histórico do Dudu.A história se repete? É, pode ser.

Anônimo disse...

Esse texto é muito longo e inútil. Quem vai ganhar é o Edmilson!

Anônimo disse...

Poxa, Perereca ... comparar o Vic da Valéria com o piloto da Ana Júlia foi por demais. Primeiro, porque o piloto foi nuvem passageira, mas que mesmo assim deixou estragos. Já o outro é uma trovoada daquelas de dá medo em qualquer um. O histórico dele é o pior possível e você sabe muito bem disso.

Anônimo disse...

Ana Célia,
O que faz valer a vida é esse contraditório constante dentro de nós.
Por exemplo, esse seu direito de só ver defeitos em mim e o meu direito de admirar você quando me dá vontade.
Sem problemas de consciência ou ter de prestar contas do nosso querer, do nosso gostar.
O bom é que somos muito quentes ou muito frios.
Só não conseguimos ser mornos.
Porque o morno, a gente vomita.
Vic

Anônimo disse...

Virou moda fazer apologia a Valéria, mostrá-la como uma pessoa dedicada as causas públicas e sociais.
Me poupe! Aquela mulher é uma personagem, tenho medo de gente assim, que na televisão parece caridosa, preocupada com os pobres, consciente de seu dever cívico, mas na prática comete a mesma roubalheira com o dinheiro público, tal qual o Dudu, a quem aliás ela apoiou.

Ana Célia Pinheiro disse...

A todos aos anônimos e ao VIc:

Não faço apologia da Valéria: digo, apenas, o que vivi, quando fui assessora dela. Se isso parece apologia, são outros quinhentos.

Lembro, apenas, do quanto ela é bacana, sem qualquer câmera por perto.

Bacana, porque é dela ser assim.

Não à toa a chamei de Barbie Princesa: é a boneca que desperta, em nós, mulheres, a vontade de vestir e de fazer mil trancinhas.

E de colocar um lacinho, uma rendinha e um babado aqui e ali...

É possível que fizéssemos o mesmo com a Beijoca, a Ana, se ela deixasse.

É lindo!

Não consigo sentir inveja disso. Mas, carinho. Uma lembrança pra lá de bacana...Me desculpem, meninas, mas sou assim. Que se há de fazer, não é mermo?...

Quanto ao Vic: Agradeço a defesa que faz de mim.

Acho até bacana a lembrança do frio, do quente e do morno: a ti, como és morno, vomitarei da minha boca!...

É claro que li e que agradeço a confiança de que li. Fico feliz pela certeza expressa no seu comentário.

Mas, o senhor precisa ter em mente uma coisa - e se alguém nunca lhe disse, eu vou dizer.

Para que a Valéria seja eleita é preciso que se aparte do senhor.

É preciso que se dissocie da sua imagem, que é para lá de queimada.

Vi, em Capanema, que ela é bem catita que o senhor. Mas, não basta eu ter visto: é preciso que outras pessoas vejam isso.

Ainda hoje, tenho pra mim que é ela que escreve, que vai de blog em blog - e não o senhor.

E eu só penso é em dizer para ela – como, aliás, penso que também a Beijoca diria – por que o medo?

Estamos aqui, todas nós! Você não está só – nem perto disso!

Seja, queridinha, seja!

Vamos tricotar à beça enquanto olhamos você.

Mas, sempre estaremos aqui!

Anônimo disse...

Quem diria, Vic e Ana Célia entre o quente, o frio e o morno, como diz o deputado Vic Pires Franco no seu comentário aqui, se considerando por assim dizer alma gêmea da Perereca. Sinceramente, como jamais imaginaria na minha vida ler coisa do gênero, apesar das náuseas.

Anônimo disse...

Também tive vontade de vomitar lendo as baboseiras que o vic escreveu.

Ana Célia Pinheiro disse...

Queridos:

Me deixem esclarecer uma coisa.
Hoje, conversando com um amigo, percebi que ele não entendeu essa coisa do frio e do quente e do morno.

Não quero defender o Vic, mas, a questão é seguinte.

Essa história do frio, do quente e do morno é bíblica.

Confesso que já não me lembro se está no Velho Testamento ou no Apocalipse - faz uns vinte anos que li.

Mas, ao que me recordo a história é a seguinte: Deus está a se dirigir a uma tribo, a um povo.

E diz, por outras palavras: Que pena que não és quente nem frio. Como és morno, eu te vomitarei da minha boca.

O significado disso tem a ver, justamente, com a definição.

Se sou quente, se sou frio - ou seja, se sou definido - tu me reconheces, os teus sentidos me reconhecem.

Se sou morno, quer dizer, se sou indefinido, os teus sentidos não me reconhecem e, por isso, me vomitas.

Tem a ver com a capacidade de sermos, sempre, apesar de.

Não quero defender o Vic. Mas, afinal, foi isso o que ele quis dizer.

E eu respondi com agradecimento, pelo fato de ele ter certeza de que eu conhecia o texto bíblico.

Quer dizer, de ter a capacidade de ser fria ou quente, de me definir...

Aletheia Vieira disse...

Oi, Ana Célia. Bacana teu texto sobre a Valéria. Claro que ela é melhor que o Dudu. Para mim o problema dela é esse partido, já que não simptizo com o DEM. Não tenho nada contra ela, mas sou meio desacreditada, sabe? Para mim, apesar de trazer benefícios, o Presença Viva acabou sendo uma tentativa eleitoreira em algumas situações ou usado para algum interesse próprio. Vamos ver como as coisas vão se ajeitar. Beijos!

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