quarta-feira, 4 de abril de 2007

Mexendo em vespeiro

Sobre a greve dos controladores


Essa questão dos controladores de vôo é extremamente complexa. Por maior que seja a tentação de apoiarmos os brothers, uma coisa é certa: eles têm armas nas mãos. Tão destruidoras como uma bomba, diga-se de passagem.


E é isso o que o PT precisa aprender: há categorias e categorias. Em algumas, é preciso, mesmo, o zelo militar. Aquela coisa de que eu posso estar com gripe, febre, diarréia, mas tenho um dever a cumprir. Que é matar ou permitir que as gentes vivam.


Se há deficiências, que se corrijam. Mas as pessoas que lidam com isso, têm, sim, de ter uma disciplina a toda prova.


Se eu, jornalista, faltar, amanhã, ao trabalho, ninguém morre por isso. No máximo, levaremos um furo. O que quer dizer, em outras palavras, que alguém (um outro jornal) falou sobre o que o jornal em que trabalho deveria ter falado.


Se sou engenheira e faltei à apresentação de um projeto, ao me debruçar sobre ele, terei a chance de corrigir isso.


Se sou advogada, mesmo que perdendo um prazo, imaginarei mil maneiras de corrigir isso – e em qualquer caso isso não significará, quase certamente, a vida, concretamente, de um único cidadão.


Mas os controladores de vôo, se quiserem, provocarão, amanhã, não meros atrasos nos aeroportos, mas um desastre de grandes proporções.


Temos de parar de encarar os militares como inimigos potenciais. Tivemos vinte anos de ditadura. Mas, acabou, passou. E essa geração de militares que está aí é tão ou mais esclarecida que qualquer de nós.


Viram, como nós, civis, os estragos provocados pelo autoritarismo. E, graças a Deus, têm bem menos a chorar que o Chile ou a Argentina.


Mas, até pela ideologia, pela formação da caserna, têm uma disciplina de que nós, civis, ficamos aquém. E que é, sim, necessária em situações de crise, ou, que Deus nos livre, de uma guerra.


Porque numa guerra – e os militares sabem disso – só sobrevive quem consegue habituar o estômago ao capim. Se não há um único inseto – altamente protéico, por sinal – para abastecer o corpo, que o mato faça as vezes, afinal...


Quem tem armas nas mãos, não pode ser deixado à solta. Isso é um perigo demasiado grande para os cidadãos desarmados.


Sujeito desses tem, sim, de aprender a bater continência.


E se não aprendeu, me desculpem brothers, ou que vá embora ou que a prisão administrativa lhe sirva de lição, afinal.


Aqui, o que existe não é a chibata nas costas de um marinheiro. É um sujeito que, com um único botão, pode determinar a segurança – ou não – de centenas de cidadãos.

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