É grande a preocupação, nas redes sociais, com a possibilidade de Bolsonaro estar planejando um golpe de Estado.
É possível? É.
Até porque ele sempre sonhou com isso.
A questão é se as circunstâncias lhe permitiriam não apenas dar um golpe, mas, sobretudo, mantê-lo.
E se o troca-troca que vimos no governo é realmente indicativo da preparação de um golpe, ou, pelo contrário, uma sinalização ainda mais forte do esvaziamento desse genocida.
Aparentemente, o ministro da Defesa, um general, e os chefes das Forças Armadas não toparam a proposta que lhes foi apresentada, qualquer que tenha sido.
Ao que se diz na imprensa, não querem a politização dos quarteis e defendem o respeito à Constituição.
Isso revela, no mínimo, uma divisão entre os militares.
Porque esses militares, embora “moderados”, integram ou integravam o governo.
E se nem eles toparam um golpe, então o que dizer daqueles que nem do governo quiseram participar?
Além disso, nesse troca-troca, Bolsonaro teve de ceder muito mais do que gostaria.
Não conseguiu segurar Ernesto Araújo, no Ministério das Relações Exteriores.
Também teve de colocar, na Secretaria de Governo, uma representante do Centrão.
Como se isso não bastasse, quase assistiu a uma “rebelião” inédita, com a saída dos três chefes das Forças Armadas, devido à demissão do ministro da Defesa.
Na verdade, Bolsonaro parece mais é estar derretendo.
Perdeu o apoio dos ricos, viu o STF reabilitar Lula, engoliu ameaças do Centrão acerca de um impeachment, a maioria dos governadores já não o suporta.
Para completar, não consegue nem mesmo garantir umas forças armadas para chamar de suas...
É certo que assistimos, nos últimos dias, a sinais preocupantes, como o vídeo daqueles bolsonaristas armados, ameaçando os defensores do impeachment.
Ou, o que é muito pior, à politização da morte do soldado Wesley Goés, com os bolsonaristas jogando a polícia contra os governadores e o lockdown.
O fato pode significar uma tentativa de juntar policiais e milicianos, para a efetivação de um golpe, mesmo diante da reação de parte dos militares.
Também pode ser uma tentativa de levar os policiais a não ajudarem mais a combater a pandemia.
Isso seria devastador: além de agravar a disseminação dessa doença, também poderia gerar uma recusa à repressão de quebra-quebras, decorrentes da fome e do desemprego, ou até ensaiados.
Seria o caos, a proporcionar, quem sabe, apoio popular a uma ditadura.
E até a permitir, em uma janela temporal ainda que breve, a eliminação de lideranças oposicionistas.
(É sempre bom lembrar que não lidamos com pessoas normais, mas com fanáticos).
O grande problema, do ponto de vista de Bolsonaro, é que a derrota de Trump levou embora qualquer possibilidade de apoio internacional a um golpe, principalmente pela extrema-direita, no Brasil.
O que o genocida e os cérebros de minhoca que o apoiam não conseguem entender é que o Brasil não é uma republiqueta qualquer.
Este país possui imensos recursos estratégicos e peso determinante na América Latina, e até mesmo para o futuro mundial.
Só isso já seria motivo para uma intervenção, pelos Estados Unidos e outros países, no caso de um golpe fascista, dada a necessidade de conter o avanço obscurantista.
Mas há outra circunstância muito importante: o Brasil já é uma ameaça sanitária global, o que se tornaria ainda mais perigoso, até incontrolável, se manietado por esse bando de lunáticos negacionistas.
Talvez seja a impossibilidade de apoio internacional, aliás, a verdadeira razão da relutância dos militares à uma ditadura, que poderia até mesmo prescindir de Bolsonaro.
Eles deram um golpe, em 1964, e participaram ativamente dos golpes de 2016 e 2018.
Aliás, são golpistas desde a proclamação da República...
Assim, é difícil acreditar que a relutância se deva a um repentino apreço pela Constituição.
Bem mais provável é que saibam que podem até “colocar os urutus nas ruas”.
Mas mantê-los ali é que são elas.