Empresários de Belém e de
outros municípios, alguns deles milionários e até envolvidos em acusações de
trabalho escravo e crimes ambientais, estão entre os maiores doadores de
dinheiro para a campanha do delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, que concorre
à prefeitura com o apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Entre as 163 doações que
o candidato declarou até a última segunda-feira (23/11) também existem 41 de
origem não identificada, o que representa um quarto do total.
A irregularidade é a
mesma que levou à desaprovação das contas de campanha de Eguchi pelo Tribunal
Regional Eleitoral (TRE), nas eleições de 2018, quando concorreu a deputado federal.
A decisão, que transitou
em julgado no último 31 de outubro, determina que ele devolva R$ 16 mil aos
cofres públicos.
Já a campanha de Edmilson
Rodrigues, também candidato a prefeito Belém, recebeu mais de 90% das doações
do partido dele, o PSOL, e do PT. Nas contas de campanha dele, há apenas dois
doadores não identificados.
Pelo menos 59% vieram de
empresários
Segundo informações do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até a última segunda-feira o dinheiro de
empresários já representava pelo menos 59% das doações de origem identificada para a campanha de Eguchi. Outros 7% vieram da Direção do Patriota.
Mas como a Perereca
pesquisou nome a nome apenas as 53 maiores doações (aquelas iguais ou acima de
R$ 1.000,00), não há como afirmar se os 34% restantes eram apenas de cidadãos
comuns.
Até a última segunda-feira,
Eguchi havia declarado apenas R$ 235.315,00 em doações. Desse total, R$
21.170,00 eram de origem não identificada.
Dos R$ 214.145,00
restantes (doadores identificados), pelo menos R$ 125.545,00 vieram de
empresários e R$ 15.900,00 da direção partidária, restando R$ 72.700,00 que
poderiam ou não ser apenas de “cidadãos comuns”.
Acusações de trabalho
escravo...
O maior doador da
campanha de Eguchi é Reinaldo José Zucatelli, que doou R$ 20 mil. Em maio de
2002, uma fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e da Polícia
Federal constatou várias irregularidades em uma fazenda pertencente a ele, no
município de Marabá, no Sudeste do Pará.
Segundo a denúncia do
Ministério Público Federal (MPF), mais de 70 trabalhadores viviam ali há anos,
mas não possuíam contrato de trabalho. As condições de vida eram degradantes: a
água para beber, tomar banho e preparar a comida vinha de um igarapé, também
usado para dar de beber ao gado. Os alojamentos eram barracos no meio da mata,
com piso de chão batido e cobertos com lona, sem cozinha ou banheiro.
O caso só foi
sentenciado, em primeira instância, em 2009, ou 7 anos depois. O fazendeiro, o
gerente e testemunhas negaram as acusações. O juiz entendeu que Zucatelli e o
gerente não poderiam ser condenados por trabalho escravo, por falta de provas.
Mas o principal, a seu ver, é que Lei 10.803/03, que descreveu as práticas
trabalhistas enquadráveis nesse tipo de crime, só entrou em vigor em dezembro de
2003, ou depois do fato.
No entanto, o juiz
condenou cada um a mais de 3 anos de reclusão por outros crimes. Basicamente,
falsificação de documentos públicos, devido à falta de anotações nas carteiras
de trabalho. O Tribunal Regional Federal da 1ª
Região negou os recursos do fazendeiro, do gerente e do MPF. Mas o Superior
Tribunal de Justiça (STJ), onde o caso só chegou em 2015, declarou as punições
extintas, devido à prescrição pelo tempo decorrido.
...Crimes ambientais...
Sediado em Marabá, o
grupo empresarial de Zucatelli é um dos mais poderosos do Norte do país: além
de fazendas de gado e plantio de eucalipto, também atua nas áreas de Seguros,
pavimentação asfáltica e comércio de veículos, máquinas e implementos
agrícolas, inclusive para prefeituras do Pará e de outros estados.
Mas ele não foi o único
rico e poderoso empresário a contribuir para a campanha de Eguchi. Outro grande
empresário é Arnaldo Betzel, ex-presidente do Sindicato Rural de Paragominas, que
declarou ter doado apenas R$ 5 mil. Ele é o patriarca de um grupo cujas
empresas localizadas pela Perereca somam cerca de R$ 8,5 milhões em
capital social declarado.
Boa parte das empresas
está concentrada no município de Benevides, como a EBL – Exportadora Benevides,
a Hadex Comércio e Indústria de Madeira e a Benevides Madeiras. Mas há também
uma empresa sediada no Acará, a Goola Indústria Comércio e Exportação de
Alimentos (antiga Angus), e uma filial da Benevides Madeiras em Melgaço, na
Ilha do Marajó.
Em 2018, Arnaldo Andrade
Betzel, filho e sócio do Betzel doador da campanha de Eguchi, foi multado pelo
IBAMA em cerca de R$ 2,2 milhões, por desmatamentos ilegais. Mesmo assim, o
grupo segue exportando madeira para a Bélgica, Holanda, França e Dinamarca, e
polpa de frutas, como o açaí, para a Alemanha.
Outro empresário acusado
de crimes ambientais, que também doou dinheiro (R$ 6.295,00) à campanha do
delegado, é Eduardo Yasuji Martins Eguchi, irmão do candidato. Em 11 de
novembro, o juiz Raimundo Rodrigues Santana, da 5ª Vara da Fazenda e Tutelas Coletivas
de Belém, determinou o bloqueio de R$ 3 milhões em bens de Eduardo, da
Tecniflora Ltda, que pertenceu a ele, e de mais quatro pessoas, devido a um
suposto esquema de fraudes para acobertar a extração e comércio de madeira
ilegal.
(Leia aqui: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2020/11/justica-bloqueia-bens-de-eduardo-eguchi.html).
...e apropriação de ICMS
Outro doador às voltas
com a Justiça é o empresário Antonio de Abreu Lobão, que doou R$ 1.000,00.
Sócio das empresas Super Luz Comércio e Serviços e Centro Elétrico Ltda, ele
chegou a ser preso, em dezembro de 2014, durante a Operação Poraquê, deflagrada
pelo Ministério Público do Pará (MP-PA)
e pela Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA), para investigar fraudes
licitatórias e sonegação fiscal que teriam ocorrido em prefeituras do interior.
Lobão foi preso porque a
polícia encontrou, na casa dele, duas armas (revólver e espingarda) sem
registro. No último 19 de novembro, ele foi denunciado pelo MP-PA à Justiça por
crimes contra a ordem tributária. Durante dois anos, diz o MP-PA, o empresário
teria se apropriado de mais de R$ 3 milhões em ICMS, que o Centro Elétrico Ltda
cobrava dos clientes, embutido nas notas fiscais, mas não repassava ao Fisco. O
processo é o de número 0019896-28.2020.8.14.0401 e tramita na 13 Vara Criminal
de Belém.
Veja outros empresários,
além de Zucatelli, Betzel e Eduardo Eguchi, que doaram para a campanha do
delegado (na lista, apenas as doações iguais ou acima de R$ 2 mil):
1-Geraldo Kohei Yamamoto,
dono da Master Jeans Comércio e Confecção (aparentemente ligada ao grupo
Yamcol). Doou R$ 18 mil;
2-Francisco Nunes Viana
Neto, seria sócio da construtora Perfil Engenharia Ltda. Doou R$ 12.200,00;
3-Cleomar Carneiro de
Moura, produtor rural (e cartorário). Doou R$ 10 mil;
4-Fabrízio de Almeida
Gonçalves, sócio da construtora Santa Rita Engenharia Ltda. Doou R$
7.500,00;
5-Edison Pacheco Gonzales
Junior, seria sócio da Indústria e Comércio de Conservas Alteroza Ltda, que
fabrica palmito em conserva, no município de Anajás, na Ilha do Marajó. Doou R$
5.000,00;
6-Acácio Antonio de
Almeida Gonçalves, sócio da construtora GM Engenharia Empreendimentos Ltda.
Doou R$ 5.000,00;
7-Roza Martinha Cabral
Rebelo Vianna, sócia da Rebelo Indústria, Comércio e Navegação Ltda (Reicon) e
da Fazenda Santo Ambrósio, no município de Chaves, na Ilha do Marajó. Doou R$
4.500,00;
8-Armando Câmara Uchoa
Junior, dono da construtora Engefix Construções Eireli, sediada em Ananindeua
(no site do TSE, o nome está grafado “Armanda”, mas o CPF é dele). Doou R$
3.000,00;
9-Alexandre Antunes
Renda, seria sócio administrador da Veloz – Química, Derivados de Petróleo e
Solventes Ltda (Veloz Tintas), sediada em Benevides. Doou R$ 3.000,00;
10-Maura Bringel Erse,
dona da construtora Marquise Serviços de Construção Eireli (MG Construtora).
Doou R$ 2.500,00;
11-Ivan Lopes de
Carvalho, sócio da empresa de instalação e manutenção elétrica Carvalho’s
Comércio e Serviços de Manutenção Ltda (Estrutura – Materiais de Construção).
Doou R$ 2.400,00;
12-Walter Filizola da
Silva Filho, seria sócio da WG Filizola Representações Ltda. Doou R$ 2.150,00;
13-Neuro Zortea, seria
sócio das empresas J Evelin Comércio de Móveis Ltda (Vitta Ambientes
Planejados) e NTZ Comércio de Móveis Ltda. Doou R$ 2.000,00;
14-Fábio Yamamoto
Inagaki, seria sócio da empresa Yamamoto Comércio Ltda (Yamcol). Doou R$
2.000,00;
15-Agnaldo Novaes de
Lima, seria sócio da empresa M.J Novaes de Lima & Cia Ltda (Curtume Ideal).
Doou R$ 2.000,00