quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Até quando abaixaremos a cabeça diante da patifaria em que se transformaram as “organizações sociais”?

Não adianta: ninguém vai conseguir me convencer a aceitar essas “organizações sociais”, que, para mim, não passam de mais uma patifaria para burlar a Lei.

Já ouvi toda a sorte de argumentos em relação às OS: que só através delas, por exemplo, se consegue remunerar melhor os profissionais que têm de ser contratados para essas “sofisticadas” estruturas públicas, que são os hospitais regionais.

E eu fico pensando: se a Lei já não contempla a realidade, se está defasada, por que, então, não modificá-la, ao invés de ficar simplesmente criando essas monstruosidades para tentar transgredi-la?

Os tucanos pariram as OS e os petistas, que adoraram essa gambiarra, resolveram também se valer delas.

E vejam no que isso resulta: na prática, é a entrega de uma estrutura pública, na qual se investiram milhões em recursos públicos, a um ente privado, sem o necessário processo licitatório.

É o repasse continuado de recursos públicos para a manutenção dessas estruturas, apesar de entregues à administração privada.

É a absoluta falta de transparência do funcionamento dessas administrações, já que o Estado, na prática, simplesmente lava as mãos.

Não estamos a falar do quintal da governadora ou do governador de plantão, mas, de um tema que tem de estar muito acima das quizílias partidárias: o bom uso do dinheiro público – coisa que diz respeito a cada cidadão deste país.

Desde que fiz a matéria sobre os R$ 100 milhões que circularam no Hangar (leia abaixo), não consigo parar de pensar no seguinte: será que algum dia nós, os cidadãos; nós, os contribuintes que ralamos para sustentar este estado, conseguiremos saber o que aconteceu de fato com essa montanha de dinheiro?

Essas OS são, na prática, novos sorvedouros de dinheiro público – como se já não bastassem os existentes.

É a terceirização de serviços públicos, mas sem os rigores que norteiam as terceirizações.

Até porque há a desculpa de que as OS não têm fins lucrativos. 

Mas, se não têm fins lucrativos, por que então avançam sobre a “rapadura” dos recursos públicos?

Veja-se a questão do Hangar. 

Os tucanos construíram o Hangar – a um preço pra lá de turbinado em relação a estruturas semelhantes, diga-se de passagem – com a justificativa de que era estratégico para o desenvolvimento do Turismo.

Ora, se o Hangar é estratégico para o desenvolvimento do Pará, então por que não colocá-lo diretamente sob a gestão do Estado?

Por que não nomear para a Presidência do Hangar um funcionário público, um bom gestor na área do Turismo?

Por que não criar o necessário quadro de funcionários públicos que vão atuar no Hangar?

Da mesma forma, os hospitais regionais, que são estratégicos para o desenvolvimento social; para melhorar a qualidade de vida da população.

Por que não nomear para a direção desses hospitais bons gestores da área de Saúde e realizar a contratação de seus funcionários no território da legalidade?

Ou será que quando foram criadas essas novas estruturas públicas – Hangar, hospitais regionais, Estação das Docas – só se pensou o funcionamento delas a partir de gambiarras legais?

Acaso o Hangar e os hospitais regionais funcionaram de forma excelente ao serem geridos por essas OS?

Acaso resultaram em ganhos efetivos para a população e os contribuintes?

Acaso conseguiram ser mantidos ao largo dos efeitos nefastos da partidarização?

Ou será que o que temos visto é que, muitas vezes, essas OS acabam é sendo usadas com finalidades inconfessáveis?

Penso que esse “novo modelo” representa, na verdade, um retrocesso: é o oposto dessa árdua luta da sociedade brasileira por mais transparência e controle social sobre a utilização dos recursos públicos.

E há uma coisa muito interessante, quase didática, quando a gente pensa na gestão dessas OS.

A gente costuma separar o dinheiro que circula dentro das estruturas geridas pelas OS em público e privado.

Mas, bem vistas as coisas, tudo o que circula lá dentro é dinheiro público, já que cada prego, cada cadeira, cada aparelho de raios X dessas estruturas foi adquirido com dinheiro público; com o meu, com o seu, com o nosso dinheirinho.

Não havia, nem no Hangar nem nos hospitais regionais, um pedacinho de concreto que não tivesse sido comprado com o suor da gente, quando foram entregues, sem um ai, a essas organizações sociais.

No serviço público, o uso de bens públicos em benefício próprio tem um nome: é peculato.

Mas nas OS toda essa severidade que tem de nortear a utilização dos bens públicos como que desaparece.

E os diretores dessas entidades podem se beneficiar, se quiserem, com boas remunerações, troca de favores, ou sabe-se lá o quê, sem que sejam incomodados.

Na prática, podem, se quiserem, comprar carrões, casas, apartamentos, férias em algum lugar paradisíaco, Educação para os filhos, a partir da exploração de estruturas que pertencem, em verdade, a mim, a você, a todos nós.

E a pergunta que fica é esta: até quando nós, cidadãos, vamos nos conformar com essa patifaria?

Até quando, por causa de simples preferências partidárias, vamos abaixar a cabeça diante desse retrocesso e ilegalidade?

Ou será que os partidos políticos se tornaram mais importantes que o bom uso da coisa pública?

FUUUUUIIIIIII!!!!!!!!!


PS: Não adianta os petistas ficarem furibundos com a matéria do Hangar, assim como não adiantou nada os tucanos odiarem as matérias sobre o financiamento das contas de Jatene – e muitas ainda virão.
Enquanto conseguir me manter independente, vou seguir fazendo a única coisa que sei fazer: Jornalismo.
E Jornalismo, para mim, é crítica, é fiscalização, é independência.
O resto é lári-lári. 

14 comentários:

Anônimo disse...

Falando em jornalismo investigativo: veja a situação da Secom (Secretaria estadual de Comunicação do Governo do Pará). As ORM, ou melhor, seus ex e atuais funcionários é que ditam as regras por lá. Te cuida Jaderzinho! Será que essa lotação está acontecendo após o artigo do Ronaldo Maiorana, para contrapor a composição do governo com o amparo do PMDB ???? Investigue e divulgue a composição desse time. Veja para gente quantos tem da rádio, da tv, do jornal, do portal do grupo ORM e quantos têm de outros veículos de comunicação ????

Anônimo disse...

Sra. Perereca,
Sempre coberta de razão. Os petistas sempre criticaram este modelo ardiloso e quando chegaram ao Poder se utilizaram desta estrutura para se dar bem.

Anônimo disse...

Concordo em parte com seu comentário, lembro apenas que quem tem as ferramentas de controle das OSs e o Estado.
seleniokoch@Yahoo.com.br

Anônimo disse...

Ana Celia, estou indignado com esse governo que inicia e que tanto nós contribuintes e prestadores de serviços lutamos para retirar o governo petista que tanto mal fez nesses quatro anos. Com dívidas a receber na setran, estive lá esta semana para conversar com os novos dirigentes, secretário Francisco Melo e Eduardo Carneiro e informá-los meu débito por serviços realizados. Logo que cheguei dei de cara com a sra. Helena Moscoso, assumindo seu velho posto de diretora financeira naquela secretaria. Todos nós sabemos de fatos de malversação de dinheiro público envolvendo essa senhora quando passou na setran, no Ophir Loyola e na Assembléia Legislativa do Estado. O que me assusta, neste iníco de governo, são "velhos cadáveres" sendo ressuscitados para compor sua equipe, em razão de arcordos políticos.
Espero que o Governador Jatene reavalie estas situações, sob pena de esvaziar seu discurso em relação a escolher pessoas cuja reputação não houvesse sido manchada por atitudes incompatíveis com a administração pública.

Anônimo disse...

Prezada Ana Célia:
Cada dia que passa a admiro mais.
Enquanto os honestos e competentes passam até fome, são despejados de onde moram, ficam desempregados porque os canalhas não os querem por perto, os ladrões ficam impunes.
Enquanto não forem presos a roubalheira e a sem-vergonhice não acaba.
Este país é uma merda!
Parabéns a você, sempre, e um grande e fraterno abraço
Marcos Klautau

Anônimo disse...

perereca, que tal nos atualizar sobre aquele processo das ORM/Funtelpa, em que o Estado pagou quase 5 milhões para que as ORM usassem suas antenas no interior, contrato renovado pelo Ney Messias no final da gestão passada do Jatene. em que pé está essa história? vc não acha que o Ney Messias que na éoca era presidente da Funtelpa e agora é secretário de Comunicação merecia, no mínimo, que recebesse alguma advertência por falta de ética por parte do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor/PA)??? o que vc acha dessa pessoa comandar a comunicação do Estado? vamos colocar o assunto na pauta, urgente, jornalista. só vc para denunciar e prestar esse serviço de utilidade pública. assunto que deveria mesmo ganhar a mídia nacional tamanha vergonha que é este contrato.

agradeço a atenção e aguardo um post sobre o assunto.

sua fã.

Anônimo disse...

pelos contratos, pelo passado e pelo presente (o que será do futuro?) já dá para se medir o tamanho da "amizade" do REIzinho com este grupo de comunicação...

Anônimo disse...

"Jornalismo, para mim, é crítica, é fiscalização, é independência". Por isso sou sua fã, Perereca!!! Jornalista como vc não precisa de diploma. Pena que vc é rara...

Anônimo disse...

Anônimo das 11:35 a Ana Célia não vai comentar, ela já escreveu que o Ninguém Merecias, foi uma boa escolha.Credo!

Anônimo disse...

Oh Bela Adormecida das 8:23, acordastes do teu sono profundo.kkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Doce Perereca,

Olha lá o que o Miguel publicou =

Jatene recebe Jaime Silva e Ronaldo Brasiliense para discutir obras para Óbidos

Numa articulação comandada pelo jornalista Ronaldo Brasiliense, amigo pessoal do governador do Estado do Pará, Simão Jatene, o prefeito municipal de Óbidos, Jaime Silva, foi recebido em audiência pelo governador em seu gabinete, em Belém, quando apresentou uma série de reivindicações para beneficiar Óbidos e sua população.
Num clima descontraído, Simão Jatene reafirmou que vai governar para todo o povo do Pará, independente de filiação partidária, e que os palanques de campanha já foram desmontados. Jatene falou também de sua admiração por Óbidos, Cidade Presépio, com seu fabuloso patrimônio histórico e sua localização privilegiada, às margens do rio Amazonas, em sua parte mais estreita e profunda.



Simão Jatene destacou com o prefeito Jaime Silva os laços de amizade que o unem há mais de 25 anos ao jornalista Ronaldo Brasiliense. “Óbidos pode se orgulhar de ter como um de seus representantes o Ronaldo Brasiliense, amigo de todas as horas”, afirmou Jatene, assegurando que tudo fará para que Óbidos seja contemplada com obras estruturantes que garantam o bem estar de sua população.

Minha doce Perereca, me responda - jornalista - que é Jornalista,com J maiúsculo - é prá intermediar apresentação de Prefeito pedinte à Governador ouvinte ???

Anônimo disse...

o Reizinho diz no twitter dele:

"gostaria de aproveitar que estamos discutindo formatos. Vamos continuar privilegiando os grandes veiculos,mas sem desprezar isso aqui e vcs"

se não entenderam, ele vai continar beneficiando as ORM, ahahhahahaha

Anônimo disse...

"Enquanto conseguir me manter independente", como assim Perereca?
Me explique, você pretende deixar de ser independente? Quando e como?

Anônimo disse...

Querida perereca, os PETISTAS fizeram do hangar seu point preferido, canalhas pelo poder isso sim.

Postar um comentário