segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

2010: Jader, o PMDB e os anéis do poder




As duas últimas semanas foram de fortes emoções na política paraense.



Ao longo delas, sobressaiu-se, novamente, o formidável jogador que é Jader Barbalho.



Mais uma vez, ele mostrou o porquê de ser o político paraense de poder mais duradouro da nossa história recente.



A lâmina que Jader colocou sobre o pescoço de Duciomar não apenas abalou profundamente as pretensões daquele ao Senado Federal.



Na verdade, quase lhe permitiu colocar as mãos na cobiçadíssima Prefeitura de Belém, com o seu turbinado caixa e capacidade de influência sobre um quarto do eleitorado paraense.



Tal perspectiva, aliás, permanecerá factível ao longo do próximo ano, devido à batalha jurídica que apenas começou.



Daí, também, o escarcéu em torno da posse-que-não-houve de Priante – e que todos, inclusive Priante, sabiam ter tanta validade quanto o diploma de Duciomar: o que importava, na verdade, era maximizar o estrago.



Foi um risco? Foi sim, pela não-descartável possibilidade de vitimização de Duciomar.



Mas, um risco muito bem calculado.



Afinal, é difícil vitimizar alguém como Duciomar.



Além disso, o grupo de comunicação dos Barbalho possui boa penetração, na capital e no interior.



E, o que é ainda mais importante: a população, ao fim e ao cabo, não entende patavina de legislação.



O que o eleitor médio sabe é que Duciomar está cassado – e só.
E isso funciona como um veneno.



Porque mesmo que Duciomar consiga se manter na PMB, ao longo do próximo ano, já perdeu, certamente, o voto do eleitor que não quer perder o próprio voto.



E esse é um sentimento fortíssimo e determinante em qualquer eleição.



Ao impeachment prático de Duciomar e à debilitação do bloco PR/PTB, vieram se juntar outros dois fatos importantes.



O primeiro, a definição da candidatura tucana ao Governo do Estado – e a escolha, como já era esperado, recaiu sobre o ex-governador Simão Jatene.



O segundo foi a entrega da Secretaria de Obras (Seop), pelo peemedebista Francisco das Chagas, o Chicão.



Mas, embora esses dois fatos tenham ocorrido no mesmo dia, é melhor não tentar somar dois mais dois, porque a conta resultará, invariavelmente, em cinco ou sete.


II




Quem imagina que a entrega da Seop e de vários outros organismos estaduais pelo PMDB sinaliza a impossibilidade de uma aliança entre o PMDB e o PT em 2010, corre o risco de se decepcionar amargamente.



Análises conjunturais e alianças políticas não são feitas em cima de querências ou torcidas, mas, de absoluto pragmatismo.



O que se leva em conta não é se fulano é bom bonito e gostoso, ou se sicrano é honesto e até simpático a mim.



O que se leva em conta é apenas e tão somente o que se tem a ganhar – e a possibilidade efetiva de ganhar.




O resto é simplesmente isto: o resto.



Então, pondo de lado o fígado (e, especialmente, o coração, que esse é terrível a qualquer análise política), vamos observar a configuração desse instigante tabuleiro paraense.




III




Mais que ao PSDB a definição da candidatura tucana ao Governo do Estado fortalece o PMDB.



E por quê?



Porque Jatene, por ser um candidato viável e com o qual o PMDB pode, de fato, se coligar, é a perna que faltava ao PMDB para emparedar o PT e a governadora Ana Júlia Carepa.



Até aqui o PMDB estava manco.



Dizia que se ia embora, mas, não tinha efetivamente para onde ir.



É mais ou menos como a mulher que diz ao marido: se não me queres, tem quem queira.



Mas, até que apareça o Ricardão, a hipótese não chega a incomodar.



Agora, no entanto, há o “Ricardão-Jatene”, robusto, bem apessoado, de alma, corpo e tudo o mais arregaçado.



Daí a manchete garrafal, com foto igualmente garrafal, do jornal Diário do Pará, acerca da paz tucana.



Foi quase como se dissesse: tai, maninho, o “Ricardão”!...



E é bem possível que só agora, depois de tamanho exibicionismo, o PT esteja de fato a pensar: e agora, José?



A hipótese de Jader ao Governo sempre foi um blefe. E um blefe daqueles que nenhum jogador experimentado é capaz de acreditar.



A situação só seria diferente se ele conseguisse colocar as mãos na Prefeitura de Belém.



Aí, a sua liderança carismática e esse todo compacto que é a militância do PMDB se juntariam a uma máquina poderosa, em termos de recursos financeiros e em termos de eleitorado potencial.



Mas, sem a PMB, Jader teria de disputar as eleições ao Governo em igualdade de condições com os tucanos, e em condições inferiores aos petistas.



Seria um risco altíssimo, devido à altíssima rejeição que possui, e que contamina até pessoas de seu grupo e aparentados.



E Jader, pelos inúmeros rolos e inimizades, não pode correr riscos. Especialmente, riscos altos.



Agora, porém, com a candidatura de Jatene, o PMDB rejuvenesceu – ganhou, por assim dizer, um botox básico.



Resta saber até que ponto o PSDB tem condições de passar da condição de amante eventual a de maridão...




IV




Jatene é, de fato, um candidato formidável.



Um intelectual brilhante, com história e desenvoltura frente às multidões, debates e programas televisivos.



Penso até que Jatene é, de fato, uma produção coletiva dos tucanos paraenses, que sempre souberam aproveitar as suas melhores idéias e nunca se importaram que ficasse no fundo da rede – aliás, muitas vezes, até incentivaram essa característica, porque sempre foi ela a permitir que o conjunto pudesse, afinal, trabalhar.



Ele tem um estilo diametralmente oposto ao de Almir.



Na verdade, é quase um Zelig: se transformará em ateniense, diante dos atenienses; em espartano, diante dos espartanos. E até, eventualmente, em persa, diante dos persas.



Tem, portanto, uma inteligência interpessoal muito acima da média.



O que faz com que consiga estabelecer um diálogo eficaz tanto com um empresário, quanto com o seu José e a dona Maria lá da Terra Firme ou da Vila da Barca.



É uma qualidade e tanto a um político, especialmente quando ela abrange, também, o palanque eletrônico.



Não bastasse isso, Jatene é um técnico poderoso, com domínio poucas vezes visto da máquina pública.



E se isso não seduz o eleitor médio, seduz os formadores de opinião.



Além disso, ator nato que é, Jatene também sabe fazer chorar.
Ou, como se diz, despertar nos eleitores um “borbulhão de emoções”, sempre que isso se faz necessário.




V




Qual, então, a grande dificuldade de Jatene?



São várias.



A primeira, dinheiro; a segunda, máquina; a terceira, decorrente das duas primeiras, expectativa de poder; a quarta – e não menos importante – Almir Gabriel; a quinta, o próprio Simão Jatene, ou a imagem de Simão Jatene aos seus correligionários.



Por incrível que pareça, a primeira e, por conseguinte, a terceira, talvez sejam as menos complicadas.



Jatene tem, sim, condições de obter um bom financiamento de campanha e, assim, por sua figura e meios, irrigar a expectativa de poder.



Não serão, certamente, os “meios” aos quais os tucanos se habituaram em doze anos de poder.



Mas, certamente, serão bem menos piores aos enfrentados em 1994.



Bem mais complicadas serão a quarta e a quinta dificuldades: Almir Gabriel e o próprio Simão Jatene.



Almir, porque não se sabe, exatamente, até onde poderá ir.
Se, simplesmente, deixar o PSDB, já será um estrago. No entanto, será o menos pior.



É certo que, com isso, Jatene terá de lidar, na campanha, com as acusações de trairagem.


Mas, até pela distância, isso talvez que possa ser contornado junto ao eleitorado.


Pior será se Almir decidir ficar no partido e aprontar na convenção, em junho do ano que vem.


Ou se sair e, mesmo assim, resolver dar uma entrevista bombástica em plena campanha.


Nessas duas hipóteses – o enfrentamento na convenção e a entrevista bombástica – é que o bicho pode, de fato, pegar.


A quinta dificuldade – o próprio Simão Jatene – é ainda mais complexa.


Jatene, afinal – e por razões múltiplas que não cabe aqui analisar – dá mostras de apetência pelo poder.


Afinal, investiu um bom durepox para juntar um partido fracionado; engoliu em seco e foi à luta, a ceder o necessário à paz tucana; vestiu, até não poder mais, as sandálias da humildade, diante de um irascível Almir; correu o estado até o inimaginável Anajás.


Ao contrário de 2006, parece, enfim, uma liderança política à altura da própria capacidade.


E, no entanto, permanece a dúvida: será Jatene capaz de impor-se a si mesmo, para enfrentar a próxima campanha, que será duríssima?

Sim, porque até agora a coisa toda fluiu bem ao seu estilo: vai-se a Anajás, mas, dorme-se na Doca de Souza Franco. Ou, para desopilar, na fazenda de Castanhal.


Mas, Jatene estará disposto a dormir, tomar banho e tomar café em Anajás?


Ou, a dormir em Rurópolis, almoçar em Placas, reunir com lideranças em Brasil Novo e jantar em Altamira?


Terá Jatene tal disposição?


Vejam: não estou falando em capacidade física, porque isso ele tem, sim.


Estou é a falar em disposição – e mais: naquela coisa do “ninguém me obriga, mas, eu vou, porque eu sei que é importante”.


Nesse ponto – e por culpa dele mesmo – Jatene permanece uma incógnita.


Porque a apetência por namorar, pescar e tocar violão pode até ser uma bênção no governo, para o conjunto da equipe que quer e precisa trabalhar.


Mas, numa campanha – e dificílima – tal característica pode se transformar, simplesmente, no principal inimigo.



Leia à noite: o que deseja o PMDB?

3 comentários:

João Salame disse...

Parabéns pela análise. A do Jatene está perfeita.

João Salame

Anônimo disse...

Almir sabe e conhece muito bem o Jatene. Afinal foi ele quem o criou. Ou melhor: bancou. Se resolver falar e abrir o bico. Pobre Jatene! Em plena campanha, quando a Maria perdeu por causa do preço da passagem de ônibus em Belém, Jatene flanava e desaparecia. Só Almir conduzia. Fala tudo Almir, fala...

Anônimo disse...

Muito boa a sua análise, PERERECA. Em particular o ponto sobre o xeque-mate que o PMDB vai dar no pt,(minúsculo mesmo) de Ana Júlia e o mensaleiro. Isto é para eles aprenderem a não "roer a corda" dos acordos que fazem. Dão as costas para os que os ajudaram. AGORA, É MELHOR CONTINUAREM A SER A PEDRA, PORQUE COMO TELHADO, são uma lástima. BEM FEITO, pt.

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