Nós, os paraenses!
Paraense que é paraense é bairrista – e pode anotar, sumanu, pode anotar!
Se não for bairrista... não é paraense!
É carioca, paulista, mineiro (uai!), baiano, cearense, pernambucano, maranhense, capixaba, gaúcho, (tchê!), amazonense – e qualquer outro ense ou aba!
Mas, paraense, não é - de jeito nem qualidade!...
Paraense que é paraense jura de pés juntos que não tem chuva igual a nossa.
Fresquinha, cheirosa, mas, tão cheirosa, que dá até de adivinhar.
Pois é, paraense que é paraense é meio bicho: sente de longe o perfume da chuva.
Olha pro céu, aprecia o céu e anuncia: avai chovê!...
Pode não ter nem nuvem!... Mas o caboclo olha pro céu (e a gente é assim, ó, ó!, com o céu...) e acerta na bucha, sumanu!
E sempre acerta! Porque paraense que é paraense sempre acerta, num sabe?
E só num sei “purque” num dá de “tuda” gente acertar na megassena.
Mais adaí já asseria ademais, né mermo, sumanu?
Paraense que é paraense sabe, desde pequenininho, que não tem fruta mais gostosa, mais cheirosa que as frutas daqui.
Qué avê um exempru, sumanu?
O cupuaçu...huuummmm!...Eita bicho danado de bom quando atá madurinho!...
Rescendendo, chamando a gente, como quem diz: me come!... Me come!... Me come agora, seu égua!
E a gente pega, parte o bicho, joga um bocado de açúcar, passa na farinha - e vai da terra ao céu num “instantinho”.
Qué avê otra? Qué avê otra?
Bacuri, sumanu, bacuri!...
Égua, que esse num aprecisa nem di ajogá farinha!...
A gente pega e dá-lhe duas puurrada, mais duas puurrada abem dada, ali mermo, no chão.
E aí, pega o bicho e come tudinho – e ainda alambe os dedos, sumanu!
Qué otra, qué otra?
Manga – manga bacuri, manda espada, manga de rua, daquelas que fazem paf!, nos carros e na cabeça da gente...
Manga – daquela amarelinha, que a gente junta na calçada – passa uma água, passa uma água!... – rasga a casca e chupa todinha, com aquele suco amarelinho a escorrer pelos cantos da boca.
Feito bicho, feito bicho – que essa é a melhor parte da gente: o bicho.
Porque bicho não tem frescura, sabe é apreciar as coisas, visse?
Aqué mais? Aqué mais? Pupunha – vixe Maria!...
Pupunha, daquela que é só óleo: tesuda e vermelhinha!...
E a gente pega a pequena,ali, quentona, queimando os dedos, sumanu!...
Rasga a casca da pequena, ali, no dente! Amarelinha, toda amarelinha por dentro!... Passa-lhe a manteiga, de cabo a rabo, e... huuummm!... Acome tudinha, tudinha – e arrebate com um café quentinho, visse?
Mas, apara lá, apara lá, que o pessoal atá arreclamando.
Diz que num afalei du principar!...
Mas é que adeixei por último, visse, caboco?
É aqueles caruçu, aquela frutinha, marronzinha por fora e rruxinha, rruxinha pur dentru!...
Aquela frutinha que deixa os beiçu da genti rruxinhu, rruxinhu!
Aquela papa de açúcar e farinha de tapioca que a gente come com pirarucu frito e uma pimenta arretada – daquelas que afazem chorá inté o mais valenti dus cabucu!...
E sei que atudu estão a pensarem: açaí! Vixe Maria!... Açaíííí!...
Pois é, sumanu, paraense que é paraense diz pra todo mundo que não tem terra igual.
Que não tem rio igual aos nossos. Uns rios tão problemáticos, mas tão problemáticos, que até cismam que são mar...
É verdade, sumanu!
Atá a duvidá, é?
Aqui, os rios são tão grandes, mas tão grandes que têm até praia!
Aqui, não tem esse negócio de rio que se espoca no mar. Não, de jeito nenhum!... Aqui, rio que é rio tem praia! E com tudo a que tem direito: onda e horário de braveza! Fundura! – que nem de oceano!...
E sabe, sumanu, penso que até já nos habituamos a eles – e eles a nós...
Tem até poeta que já disse que os rios são as nossas ruas!
Veja só, sumanu, aonde é qui issu avai adá!...
A gente vive sobre os rios. E vive dos rios. E tem quase que uma “amancebação” com os rios...
Como se fôramos, para sempre, um povo encantado, nascido das águas...
Vai vê que é purissu, sumanu, acomu eu inté lhi adissi, qui a genti inté apressenti as chuva!...
É tudo água, feito a gente, os “encantados”. É tudo floresta. É tudo índio. É tudo a força da natureza, pela qual a vida não se cansa de renovar...
Pensando bem, sumanu, acho que a gente tem inté é razão de ser bairrista, visse?...
Aqui tem rio que deixa mar envergonhado!...
Tem fruta que parece até aquele “tar” de néctar dos deuses.
Tem floresta onde o que não falta é deus...
Tem chuva, toda arrumadinha, toda cheirosinha, pra modo de afastar o calor.
Tem cores, tem cheiros, tem amores como nunca se viu.
Tem até pupunha quentinha, com manteiga e café (adesculpe aí, cumpadi, mas eu sou pupunhista ajuramentada, visse?)
O Pará é o coração encantado do Brasil e do mundo.
Por que, então, não seríamos bairristas?
2 comentários:
Faltou a manga de cemitério, que os mais exigentes consideram a de melhor adubação. Humor de finados.
Paraense que nunca comeu uma manga fresquinha, recém caidinha de uma imponente mangueira lá do "Soledade", não pode se dizer paraense.
Que me perdôem os defuntos, anônimos ou famosos lá plantados, mas manga igual a do Soledade não tem!
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