Antes de iniciar o post abaixo, quero prestar merecida homenagem ao major Walber Wolgrand, da Polícia Militar do Estado. E ele é a “cara” de um grupo expressivo de oficiais da corporação. O porta-voz.
Como todas as pessoas que defendem, intransigentemente, aquilo em que acreditam, Wolgrand tem sido vítima de toda sorte de pressões e perseguições.
Com menos de 40 anos, aliás, foi aposentado pela PM. Já teve até prisão decretada. Mas, felizmente, foi socorrido por promotores de Justiça, que se mobilizaram para defendê-lo.
Wolgrand me ajudou a abrir muitos caminhos dentro da PM. E foi fundamental para a descoberta da manobra dos coronéis, para desgastar a governadora Ana Júlia Carepa.
Franzino, de fala massa e com formação invejável para um oficial da PM – Direito e Filosofia – Wolgrand é inflexível, na defesa da tropa. E da moralidade, da ética, no trato da coisa pública.
Devido a essa intransigência, às vezes, acaba fazendo inimigos desnecessários. Falta-lhe, talvez, um pouco mais de jogo de cintura.
Mas é uma liderança profundamente respeitada na PM. Os praças o adoram, abrem o jogo. E muitos oficiais, também.
Divergimos em muita coisa. E eu – vejam só - até já o “aconselhei”, algumas vezes...
É que, apesar das divergências, tenho por ele um profundo respeito. É mais ou menos a mesma relação que tenho com Araceli Lemos e Sandra Batista.
Não concordo com elas, com a visão de mundo delas, a opção ideológica. Mas, respeito, profundamente, isto: a convicção, o compromisso social, a postura combativa.
E agradeço, muito, muito honrada o respeito que têm por mim...
I
A governadora Ana Júlia Carepa bateu na mesa e consumou a aposentadoria de 10 coronéis e 2 tenentes-coronéis que apresentaram pedidos de baixa, na última quinta-feira, 28 de junho.
Os pedidos de todos eles serão publicados, à toque de caixa, no Diário Oficial da próxima segunda-feira. Mas, já na manhã de sábado, a publicação estava disponível, via Internet.
Os coronéis jogaram muito mal. Fontes da oficialidade da PM garantem que foram os comandantes a disseminar a boataria que tomou conta das redações dos jornais, na quinta-feira.
As informações eram catastróficas: mais de mil militares (quase 10% do efetivo) teriam acorrido ao Comando Geral, para protocolar pedidos de aposentadoria, em função de um decreto que já teria sido assinado por Ana Júlia, revogando o adicional de 35% que todos eles recebem, quando passam à inatividade.
Estive no Comando da PM, na sexta-feira. A informação de um soldado foi de que umas 90 pessoas estiveram ali, no dia anterior, um pouco mais agitado que o normal. Mas, nada tão sensacional como o propalado. Até porque, os pedidos de baixa, efetivamente protocolados, não ultrapassaram a média semanal.
Mas, na quinta, quem desarmou a bomba, em relação ao Diário do Pará, foi a jovem oficialidade, que contra-atacou dando até detalhes de quando e onde a estratégia dos coronéis havia sido traçada.
O Liberal, infelizmente, mordeu a isca - e com voracidade. Chegou até mesmo a propagar que os coronéis insatisfeitos eram “jaderistas”- quem sabe o peixe que venderam ao jornal, para garantir amplo e descuidado espaço.
(Enquanto os meus companheiros do Diário me olhavam como que enviesado, porque a repórter especial e muito bem paga – devem de ter pensado – levara um furaço. E eu tentando, desesperadamente, não embarcar na canoa furada do jornalismo declarativo, apesar das tentativas, nesse sentido, de persas, atenienses e espartanos...)
Na verdade, boa parte dos que pediram baixa, ocuparam postos chaves nos governos tucanos. Alguns eram até tão próximos do ex-comandante João Paulo Vieira, que chegavam a ser acusados de participar das irregularidades que ele teria cometido.
Entre os 22 coronéis da PM, dizem as fontes da oficialidade, há, sim, gente ligada ao PMDB. Mas, a maioria é de oficiais que participaram, ativamente, dos governos tucanos.
Longe do que publicou O Liberal e do que afirmam as fontes da oficialidade, a verdade, porém, é outra: coronéis são coronéis.
Até por dever de ofício, ideologia ou para manter a paparicagem a que se habituaram, procuram servir, o melhor possível, o mandatário de plantão.
Nem poderia ser diferente, até pelos estragos que provocaria a insubordinação ou a simples deslealdade de um coronel, em relação ao “comandante em chefe”.
O problema é quando os planos do mandatário entram em choque com as regalias dos coronéis.
Aí, não existe PSBD, PMDB, PT, PFL ou legenda que valha: coronel é coronel...
II
A intenção da boataria que tomou conta das redações é claríssima: a criação de um factóide, de um clima de insegurança, de terror, em meio à tropa, para colocar a governadora contra a parede.
E esse foi o primeiro erro dos coronéis. Na época do governo de Jatene, se não estou enganada, ele também tentou revogar esse adicional de inatividade. Mas, como é um fraco, recuou diante das pressões desses oficiais.
Agora, com Ana Júlia, eles tentaram fazer o mesmo. Devem ter pensado que, por ser mulher – e isso, na caserna, é quase um pecado – a governadora recuaria, até com mais facilidade que Jatene. Ledo engano.
A postura de Jatene não é parâmetro, porque ele recua, sempre, ao primeiro berro. Já a governadora é uma mulher que abriu caminho, sozinha, num mundo de homens. Quer dizer, é tudo uma questão de psicologia básica...
Além do mais, Ana Júlia tem por trás um partido, que é, de fato, um partido. Por isso, compartilha decisões.
No PT, a cada passo, todo mundo mete a colher – e eu já cansei, aliás, de escrever sobre essa postura, com seus prós e contras.
III
Outro erro dos coronéis foi terem acreditado que, com a criação de factóides, seriam, automaticamente, seguidos pela tropa. Acabaram assim, na condição de um César Bórgia que, ao avançar sobre o inimigo, quando olhou pra trás, não viu ninguém.
“A tropa nem sabe o que se passa” – diz, desolado e pensativo, um oficial.
É verdade. Na condição miserável em que vive a maioria dos soldados, cabos e sargentos, que formam o grosso dos quase 12 mil homens da PM, é difícil acreditar que embarcariam em factóides criados pelos jornais.
Primeiro, porque não têm dinheiro nem para comer, quanto mais para comprar jornais.
Segundo, porque não têm tempo para ler, com as extenuantes jornadas de trabalho na polícia e os bicos que são obrigados a fazer, para complementar os ganhos.
Terceiro, porque, pela condição de semi-escravidão que experimentam, não estão nem aí para os coronéis.
Em geral, acreditam muito mais nos oficiais (tenentes, capitães, majores) que têm mais contato com eles. E esses oficiais, porque participam do cotidiano da tropa e vêem a situação miserável em que vive, de um modo geral, também não estão nem aí para os coronéis.
Quarto, por uma questão até filosófica: com tudo o que presenciam, no dia a dia das ruas, bem pouco, ainda, deve provocar frisson entre os soldados, cabos e sargentos...
Que, em geral, vêm das classes mais oprimidas, entre as quais bem pouco, também, já é capaz de provocar espanto...
E entre as quais, talvez até por isso mesmo, cultiva-se o hábito salutar de sempre desconfiar, à primeira vista, de quem está em cima.
Os políticos, aliás, sabem muito bem disso: para conquistar as massas, é preciso cultivar identidade com elas.
IV
Os coronéis, aparentemente, não viram nada disso: não viram o fosso que hoje os separa das tropas.
Ganham de dez a doze mil reais – contra os R$ 1.200,00 de um soldado novo.
Têm carro à disposição, celular, gabinete com ar refrigerado – contra o misto frio, a caixinha de suco e o copo de água que um praça recebe, por oito horas de serviço, em um estádio de futebol, em dia de jogo.
Não viram que os tempos mudaram, a sociedade é outra e que o Pará, aos trancos e barrancos, avança no caminho da democratização.
Não perceberam que, até para manter a disciplina que tanto prezam, e que é essencial entre os que detêm armas nas mãos, é preciso melhorar – e muito – os salários e as condições de trabalho dessa massa de soldados, cabos, sargentos, tenentes e capitães, que se arrisca, todo santo dia, no inferno das ruas.
César Bórgia se viu sozinho, porque foi traído, atraído para uma emboscada, apesar do comandante poderoso que era.
Os coronéis paraenses se viram sozinhos, por motivo oposto: isolados em confortáveis gabinetes, não viram – ou não quiseram ver – a miséria em que sobrevivem seus colegas de farda, seus companheiros, seus comandados, seus camaradas...
V
É claro que essa coisa da revogação do adicional de 35% de inatividade dá uma discussão e tanto.
Tudo bem que deve ser ilegal, inconstitucional, como me afirmaram no do Palácio dos Despachos.
Tudo bem que é meio esquisito alguém ganhar mais na aposentadoria, do que na atividade.
Mas, há uma questão complexa aí: se é ilegal, por que o Estado permitiu que tanta gente acalentasse esse sonho, durante 30 anos?
O Estado não é Jader, não é Carlos Santos, Gueiros, Almir, Jatene, Ana Júlia.
É, ou deveria ser, uma superestrutura impessoalíssima.
E, nesse ponto, os coronéis da PM estão cobertos de razão.
Não é justo que um cidadão trabalhe trinta anos a fio, com a perspectiva de um ganho lá na frente, e que, quase ao atingir a praia, chegue alguém e diga: companheiro, você nadou em vão!...
Infelizmente, o Estado brasileiro é useiro e vezeiro nessas coisas.
Age como se fosse um rosto, um partido, uma ideologia.
Mas, Estado que é Estado não tem rosto.
É um instrumento de organização, administração, mediação societária.
E, por mais que sejam os usos que dele se faça, jamais deixará de ser um instrumento público acreditado, porque com tais finalidades.
Logo, o Estado tem regras e maneiras de uso.
Se permitidas, nada há a discutir.
Mas, se foi utilizado de maneira não-permitida pelo contraparente do meu avô, há trezentos anos, posso até dizer: não, nós, os netos, entendemos que não pode ser assim; tá errado, não é justo...
Mas, isso só me dá o direito de transformar isso daqui para a frente.
Não posso, simplesmente, querer reformar toda uma anterioridade, porque isso é injusto e desleal. É como, mal dada a comparação, entrar num túnel do tempo e tentar impor, na Idade Média, o entendimento deste Terceiro Milênio...
Na aldeia, ao longo de todos estes quase trinta anos, ninguém reclamou. Ou, quem quis reclamar, fechou, complacentemente, o bico.
Com que direito, então, posso partir do suposto de que os beneficiados sabiam que era ilegal, se havia um silêncio coletivo?
Decisão, sentença não pode ser baseada em meras suposições.
Nem aquilo que decido pode se basear na minha visão, hoje, acerca de um mundo que ficou, ou vai ficando, para trás.
É claro que alguém pode argumentar: não há como alegar desconhecimento, porque havia uma Lei escrita.
Mas aí, eu também poderia rebater: ora, companheiro, a sua Lei, mesmo que você pensasse geral, não era aqui conhecida ou, mais ainda, consensual. Tanto que a aldeia inteira, pela sua Lei, agiu ilegalmente. E você mesmo diz que todos são iguais perante ela. Por que, então, você não pune a aldeia inteira? Ou, ao menos, todos os beneficiários? Por que só alguns?
VI
Em favor dos atuais coronéis da PM, gostaria, também, de dizer o seguinte: como já mencionei, eles fazem parte de um mundo que vai ficando para trás.
Todos prestaram grandes serviços à sociedade. Da maneira como a sociedade entendia que esses serviços deveriam ser prestados. Foram, em suma, agentes de uma determinada época, à serviço do tempo ao qual pertenceram.
Se tal sociedade era boa, má, certa, errada, melhor, pior, isso pouco importa. Eles caminharam pari passu com ela.
Erraram por supor um poder que já não possuem. Mas isso não desfaz o muito que fizeram em favor de todos nós.
A jovem oficialidade que assumirá no lugar deles terá conosco, é claro, maior identidade.
Mas, quem acredita, de fato, que tudo é um processo, não pode esquecer dos que vieram antes.
E eu só posso é desejar que os que venham saibam honrar o que esses coronéis fizeram.
Que descartem o ruim e aproveitem o bom.
Afinal, tudo é História!
Amanhã eu volto, para mais divagações.
Tchau! Vou encher a cara! FUUUUIIIIIII!
domingo, 1 de julho de 2007
Sobre a PM
A crise nos quartéis
5 comentários:
Não há crise. O comandante em chefe da PM, governadora do Estado, agiu com firmeza e a caserna continua de pé;
Mas esse foi o 1ºcapítulo, cabe a ela, agora, escolher com sabedoria quem serão os novos coronéis substitutos;
E aí está o problema!
Afinal o que foi mesmo que esses CORONÉIS, fizeram em favor de nós pobres mortais PARAOARAS?
Resposta: durante 30 anos ajudaram, bem ou mal, a manter a ordem pública, as garantias e direitos constitucionais, a vida em sociedade, etc... Imagine a sociedade um dia, apenas, sem a presença da PM nas ruas? Seria o caos, garanto! Vc não sente falta pq nunca ficou sem ela. Refiro-me a PMPA. Abç.
Meus amigos quando vcs verem a turma que vai substituir os coronéis aposentados, ainda vão dizer que eram felizes e não sabiam. Aguardem.
Tem uma safra de oficiais superiores parasitas, despreparados e insanos...
E alguns próximos a governadora!
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