segunda-feira, 16 de março de 2015

Meditações sobre o 15 de Março – Parte 1: A tentação do fascismo





Confesso que já ri muito ao ler as faixas e cartazes da Manifestação 171, deste 15 de Março.

Na maior parte das vezes, gargalhei. Em outras, o que me veio foi um riso nervoso, de profunda inquietação.

Tive medo pela nossa tão frágil e amada Democracia. E não consegui deixar de pensar na possibilidade de voltarmos a experimentar tempos sombrios neste país.

À primeira vista, algumas dessas faixas, que pediam “intervenção militar constitucional”, para, estranhamente, “restabelecer” a Democracia, parecem apenas erros lógicos de alguns indivíduos.

No entanto, temo que o problema seja bem mais profundo.

Temo que se trate, em verdade, de uma idealização da ditadura militar, por parcelas talvez expressivas da nossa população.

É como se, para essas pessoas, a ditadura tivesse aquela imagem mítica de um “tempo primordial”, quando tudo era paz e prosperidade e não havia corrupção, violência, etc.

Fiquei a pensar o quanto todos nós (cada um de nós) somos responsáveis por essa idealização.

Ao contrário dos argentinos e chilenos, nunca acertamos as contas com o nosso passado.

Tivemos medo de atiçar a “fúria dos quartéis”.

Sob esse manto de silêncio, torturamos e matamos aqueles companheiros pela segunda vez.

E acreditamos, ingenuamente, que bastaria colocar um bandaid em cima da ferida, para que ela nunca mais voltasse a sangrar...

Tão ou mais grave, é que nos esquecemos de martelar sistematicamente os horrores da ditadura.

Fizemos um filme aqui, uma Comissão da Verdade ali, uma reportagem acolá, mas nenhuma ação sistemática e massiva para que a sociedade, e especialmente as novas gerações, conseguisse enxergar toda a corrupção, violência e crueldade acobertadas pelas mordaças daquele tempo.

Além disso, pouco fizemos para que as pessoas apreendessem a Democracia não apenas como valor, mas, como necessidade.

E hoje é possível que muitas dessas pessoas até acreditem (à semelhança do que ocorre com os neonazistas, na Alemanha) que nada daquilo aconteceu. Ou, se aconteceu, “foi apenas aos comunistas”...

Passados 30 anos, nossa Democracia ainda permanece na adolescência, por conta das desigualdades e lassidão moral que nos acompanham há 500 anos.

E é essa Democracia, que ainda padece de vários e graves defeitos, que é comparada à imagem idealizada da ditadura.

A Democracia, que permite enxergar toda a corrupção brasileira, em toda a sua impressionante extensão.

Ao lado disso, temos, desde sempre, uma sociedade profundamente hipócrita e conservadora, cujos governos, em sua maioria autoritários e até fascistas, bem a espelham.

Temos, ainda, o crescimento célere de grupos religiosos, na arena política, com discursos antidemocráticos.

E o resultado é este que estamos vendo: a eleição de parlamentares com cada vez menos apreço à Democracia e esses grupos que se orgulham em pedir uma “intervenção militar” e até a supressão pura e simples do regime democrático.

(É, caro leitor, por incrível que pareça, há diferenças nessa lógica conturbada: para uns, o golpe “restabeleceria” a Democracia; para outros, seria o caso de simplesmente extirpá-la).

São esses grupos que buscam, cada vez mais, o controle da massa que está nas ruas; massa sem direção, às voltas com uma crise econômica e, por despolitizada, sempre em busca de salvacionismos.

E é nesse cenário, em si mesmo preocupante, que o PSDB ainda se propõe a semear o golpismo, travestido de “impeachment”.

Um comentário:

nogueira disse...

Penso que nosso principal problema vem ser a mídia: "globo, tv de primeiro mundo trabalhando a cabeça de terceiro mundo"(Dr. Celso Antonio Bandeira de Melo). Seu poder é realmente muito grande como acabamos de ver. Além do poder econômico dominando o Legislativo e o Judiciário.