quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A renúncia de Jader e a batalha pela “opinião pública”



Pode-se não gostar dele; pode-se discordar da sua “metodologia”. Mas isso não altera em nada o fato de que Jader Barbalho é um político extraordinário.

Jader possui qualidades raras: expressão cristalina do discurso político; sintonia fina com o imaginário popular; primoroso uso de uma arma avassaladora – a ironia; antevisão, liderança, impressionante capacidade de articulação.

Mesmo assim – e abstraindo os inúmeros “rolos” em que se envolveu - Jader cometeu pelo menos dois grandes erros ao longo de sua carreira política.

O primeiro foi não ter reagido de forma mais incisiva contra a monumental satanização que sofreu.

O segundo foi ter subestimado o impacto da Ficha Limpa sobre as últimas eleições.

É claro que nem mesmo a melhor pitonisa do Brasil poderia prever as trapalhadas da mais alta Corte de Justiça do País, em torno dessa lei.

Mas para alguém com o brilho intelectual de Jader soa no mínimo estranho que não tenha ao menos considerado o pior cenário possível: a eventual inelegibilidade.

Estivéssemos a falar em guerras, tal cochilo seria comparável ao “esquecimento” de Napoleão, em relação à capacidade destrutiva do General Inverno...

No caso em tela, a chamada “opinião pública”, com todos os ingredientes usados para fabricá-la. Especialmente, a natureza humana.

II

É uma bobagem acreditar que a renúncia de Jader teve algo a ver com os inúmeros processos judiciais a que responde.

Até porque, no Brasil, achar que a Justiça possa resolver alguma parada em apenas dois meses é o mesmo que acreditar em Papai Noel.

Mas é claro que os muitos inimigos do morubixaba peemedebista repisarão este argumento – o de que renunciou para escapar ao julgamento de algum processo pelo STF, repentinamente guindado à celeridade do Papa-Léguas e a uma imparcialidade quase divina...

A manobra, claro está, é uma tentativa de reduzir o impacto do fato político criado pela renúncia de Jader, que obteve, como esperado, ampla repercussão na imprensa nacional.

É um fato que atiça o debate na “opinião pública” acerca de um dos maiores absurdos criados pela aplicação da Ficha Limpa nas eleições deste ano: a claríssima retroatividade dessa Lei, que, na prática, “criminalizou” a primeira renúncia de Jader, ocorrida há dez anos, supostamente para escapar à cassação.

É um bom foco, porque fácil de “vender” para a maioria da população, que se move muito mais pela lógica e pelo bom senso do que por apaixonadas posições político-partidárias.

Daí a tentativa de reduzir o gesto de Jader a uma simples fuga processual, a tentar carimbá-lo como "fujão".

Mas embora forte e fácil de vender, é difícil dizer até que ponto o debate em torno dessa cristalina ilegalidade será decisivo para salvar o mandato de senador do patriarca peemedebista.

Porque, como já se disse aqui, os muitos rolos em que se envolveu são grandes obstáculos a que as pessoas se levantem decididamente em favor dele, mesmo em percebendo que está a ser vítima, sim, de uma violência – e uma violência que abre um precedente perigosíssimo para todos os cidadãos.

III

Mas há outro problema aí, além das muitas acusações que pesam contra ele.

Talvez por confiar demasiado na articulação política e no jogo de bastidores, Jader demorou demais a perceber que o verdadeiro teatro de operações era a chamada “opinião pública”.

Enquanto isso, os defensores da imediata aplicação da Ficha Limpa tomaram conta do campo de batalha.

Até a defesa de algo maior, muito maior do que todo esse imbróglio – o Estado Democrático de Direito – tornou qualquer cidadão passível de satanização.

E mesmo a “opinião pública” – esse processo tão artificial que exige, desde sempre, todo um aparato de propaganda – virou um “fenômeno natural” a serviço da quintessência do “Bem”, que, claro está, não contemplaria quaisquer interesses menores...

A imobilidade de Jader diante da ação desses grupos e da possibilidade de sua cassação é semelhante àquela que tomou conta dele ao longo do processo de satanização que sofreu.

Não que ele seja um “anjo” ou que não tenha feito nada daquilo que todos acreditamos que ele fez.

Mas certamente que também não é esse “ente maligno”, esse “anhanga” que a massiva propaganda de seus inimigos fez acreditar.

Jader é apenas um representante de um tipo de política que não conseguia nem mesmo imaginar a separação entre o público e o privado.

Um tipo de política que fez muito sucesso no tempo dos nossos pais e avós. E que ainda hoje obtém sucesso em muitos pontos do País, não apenas devido à pobreza, à despolitização e à falta de educação formal do povo brasileiro. Mas devido, principalmente, a essa moral lassa, a essa cultura secular de todos nós.

Daí que tão irracional quanto considerá-lo “inocente” é, também, tomá-lo como o grande “satanás” da política paraense.

E o grande erro de Jader foi não ter reagido como poderia – e deveria – a esse processo de satanização que, de tão profundo, faz com que imediatamente acreditemos, sem qualquer sombra de dúvida, em tudo de ruim que se diga dele. E que parece até ter tido o poder de apagar da memória o muito que ele, de fato, realizou.

IV

É claro que o tipo de política representada por Jader não nos interessa: é o passado; tem de ficar pra trás.

É provável, aliás, que já não interesse nem mesmo ao PMDB, que precisará se reinventar se quiser sobreviver em meio aos novos imperativos que avançam, aos poucos, na sociedade brasileira, num processo que talvez venha a ficar conhecido como uma grande virada cultural.

Afinal, creio que é a primeira vez que refletimos massivamente, e de forma duradoura e progressiva, acerca dos nossos horripilantes costumes em relação à coisa pública.

Mas é claro, também, que toda a campanha contra Jader não é movida apenas por esses nobres objetivos, que, aliás, apenas engatinham no Pará.

Fosse assim, teríamos de acreditar que todos os seus adversários jamais se envolveram em rolos tão complicados quanto aqueles em que ele se envolveu.

Na verdade, o que está por trás dessa campanha é a partilha do poder e das verbas de propaganda do próximo governo. E, quem sabe, até a própria estabilidade da futura administração.

Aos tucanos e ao grupo de comunicação que sempre serviu aos tucanos não interessa um Jader senador.

Pelo contrário: o importante é “vendê-lo” como um “político acabado”, ou que nem é lá essa Brastemp, apesar do 1,8 milhão de votos que obteve – um patamar realmente impressionante, tendo em vista o impacto da Lei da Ficha Limpa e de toda a trapalhada do STF.

Só um PT com seus nove deputados estaduais, além de outros três que também devem fincar pé na oposição, e com o apoio do Governo Federal, já será capaz de infernizar, todo santo dia, a dolce vita do tucanato.

Imaginem, então, o perigo de um PMDB monolítico, ou quase isso, com oito deputados sob o comando de seu mais brilhante estrategista, cacifado (e protegido) por um mandato senatorial...

Mas Jader é um sobrevivente. E mesmo sem mandato já conseguiu manter a liderança e a coesão peemedebista.

E se é difícil dizer se conseguirá, de fato, ascender ao Senado - até porque demorou tempo demais para compreender onde a guerra deveria ser travada - o fato é que não será tão cedo uma carta fora do baralho.

Com ou sem mandato.

Muito longe disso. 

13 comentários:

Oswaldo Chaves disse...

Ana, a história está passo-a-passo virando a página de jader barbalho, assim como virou a página de tantos outros como Passarinho, Alacide Nunes, Hélio Gueiros e, por último, Almir Gabriel.

As núvens, apesar dos 1,8 milhões de voltos, já indicam que o pijama está passado à goma para ele.

Isso sem anjos ou demônios. É só uma questão de espaço e tempo. Até porque não vejo a menor diferença ética entre Tucanos e Pmdebistas.

Uma das poucas coisas que ainda sustentam o "CHEFE" (como é chamado por grande parte dos velhos funcionários públicos) é que ele tem nas mãos o maior jornal do estado do Pará. E isso faz diferença, com ceteza.

Por fim, Jader está saindo da vida política para entrar para história real, pois mitos e lendas ele já tem muito nas costas.

Anônimo disse...

noossa, mas que defesa.

Anônimo disse...

Quando se trata de Jader, você gosta de viajar com a fantasia...

O ocaso do Barbalhismo está apenas começando...

E Jader está buscando uma saída honrosa.

Para ter peso regional agora terá que comer na mão de Dilma... se ela deixar.

E no Pará se contentar com o que sobra na mesa de Simão Jatene.

Nessa altura do campeonato o Barbalhismo sobrevive só se Helder deslanchar...

Mas aí fica uma dúvida...
Será que Helder é um Barbalhista?

Tiberio Alloggio

Anônimo disse...

Vc está cerceando os comentário??? não era a sua postura antes!!!

Anônimo disse...

aninha, concordo quando você elogia a capacidade de raciocínio do jader. Ele renunciou simplimente para não enfrentar a possibilidade de condenação do supremo....aí o processo volta a justiça comum e certamente vai se extinguir, pois o trâmite é esse que já conhecemos....rsssssssss...assim como o maluf, beneficiado pelo estatuto do idoso e morosidade da justiça e tantos outros que vão pelo mesmo caminho....para estes casos só o silvio santos para explicar...com a fábula do rei que gostava de coisas esquisitas...o tempo é seu maior aliado do jb e algoz da justiça....Agora aninha, pera-la, o grupo de comunicção dos tucanos ao qual você se refere é o diário, rba, radio clube, etc...não? o liberal foi uma uva para o governo da ana julia....seus interesses foram preservados, assim como serão no do jatene...aninha eu gostaria de verdade que a disputa política do pará não fosse um REXPA, mas nos grotões da miséria brasileira, me oarece que estamos ancorados.forte abraço..

Anônimo disse...

Comungo com sua opinião sobre inteligência, perspicácia e poder de manobra do Jader , entretanto vejo sua renuncia de uma forma um pouco mais hábil , uma forma que supera a famosa frase, matar dois coelhos de uma só tacada , pois na realidade com sua renuncia ele literalmente matou três coelhos.

Primeiro coelho, chamou atenção da mídia para o fato sou limpo para exercer mandato sou sujo para ser eleito.

Segundo coelho com este ato ganhou mais tempo em relação a justiça com a mudança de foro.

Terceiro coelho sem ter que se preocupar com seu mandato e com seus processos seu tempo integral passou a ser usado para conseguir uma nova e justa eleição para o senado no estado do Para, ( Se houver nova eleição o PMDB apresenta um ANAICE qualquer que renunciara para que o próprio seja o candidato quando poder ser elegível).

E ainda um quarto fator, que pode ser tratado como um láparo também morto na mesma tacada, sua renuncia leva para Brasília a Ane esposa do amigo Pasifal ( Suplente com mandato de enfermo) uma forma de agradecimento pelos serviços prestados.

Vendo um conselho cujo preço para quem quiser comprar será pensar a respeito do acima descrito duas vezes e assim não ter uma interpretação precipitada, vendo porque conselho dado não tem valor.

Nunca menospreze Jader, ele nunca encerrará sua participação na política deste estado a moda Almir ou Gerson Peres , derrotado, só espero que ao morrer ele não seja cremado ,pois se isto acontecer correremos o risco de ele ressuscitar a moda Fênix.

Aproveito para dizer que sou platônico da perereca deste espaço e espero ainda ter espaço nessa perereca.

MCB

Unknown disse...

Olá, Ana Célia!
Antecipadamente agradeço a publicação do que segue... foi dito que Jader barbalho está destinado a ser página virada como Passarinho, Alacide Nunes, Hélio Gueiros e Almir Gabriel. Foi dito... mas dizer e fazer são coisas difíceis de se tornarem "dito e feito". Jader página virada?
Ana Célia, a meu ver, foi Jader quem virou as páginas dos ilústres senhores citados acima.
Ana Célia, Jader ainda é o Bibliotecário Mor dessas paragens e muitas páginas ele ainda há de virar antes de ser "tombado como obra rara".

Edson Pantoja

Anônimo disse...

Perereca,

Vamos combinar!
Seu texto está exalando naftalina.
Jader já era.
Foi. Acabou. C'est fini!
Todo o resto - inclusive esses engenhosos e pouco producentes factóides - apenas confirmam que o tempo dele já passou.
Viremos essa página, por favor.

Nina disse...

Pererequíssima,

Jader é extraordinário em que?
Por legislar em causa própria?
Por só aceitar que a lei o beneficie e quando isto não ocorre, ele renuncia, tal qual um menino do buchão?
Por NUNCA ter trabalhado na vida e ter ficado rico, a custa do dinheiro público?
Por ainda ter defensores puxa-saco, que ainda disperdiçam talento escrevendo odes à ele?
Tudo bem, mal gosto não se discute, lamenta-se, mas já passou da hora de tu tirares essa venda dos olhos e ver REALMENTE quem ele é.
Aliás, penso que tu SABES muito bem quem ele é, só não podes escrever.
Tenha (quem sabe) uma ótima semana e que tua consciência durma tranquila (com Lexotan).

Ledo engano disse...

Ana, quando é realmente que vais criar coragem e chamar esse meliante pelo nome? Por quê relutas em dar a ele a classificação que realmente merece, ou seja, a de ladrão gabaritado, a que cabe ao nacional que mais espoliou e roubou o povo paraense e nos mancha de vergonha por também ser paraense? Que conversa é esa de que deveria ter reagido á satanização? E não reagiu? E não lutou o que pode para não ser considerado tão ladrão quanto realmente o é? Jader barbalho só não esta preso numa fria e solitária cela porque infelizmente o nosso judiciário é podre e corrompido e ainda conta com ajuda providencial de certos jornalistas que se omitem e se acumpliciam com esse marginal.

Anônimo disse...

Já vi esse filme antes !! A mesma simpatia, os mesmos elogios (ainda que disfarçados sob um fino e tênue véu de "crítica") também foram, tempos atrás, lançados a um Deputado Federal que mantinha um BLOG, lá indo a BLOGUEIRA trabalhar. Depois que de lá saiu (não importam os motivos), passou a descrever de forma verdadeira o ex-patrão.

Anônimo disse...

As razões da renúncia, segundo Maria Ines Nassif:
Do Valor 09/12/2010
Democracia, um tema que interessa a todos

"No mínimo, o parlamentar com culpa jamais será julgado por um Supremo Tribunal Federal que não tem vocação para julgamentos criminais. No máximo, poderá servir a manobras protelatórias incontáveis, como a agora feita pelo ex-deputado Jader Barbalho, que renunciou ao mandato para que o processo a que responde, e que entrou na ordem do dia do STF, volte à Justiça comum e recomece do nada, até que um novo mandato parlamentar reenvie o processo de volta ao STF, que começará tudo novamente. Certamente, os que nada devem gostariam de ser julgados e inocentados pela Justiça."

Anônimo disse...

É ele que é o esperto ou o povo que é burro??
Eu voto no povo que é burro.
O maior erro dele foi surrupiar os cofres públicos, podias fazer uma série de postagens mostrando como ele conseguiu subir tanto na vida. É o politico mais lembrado do norte no quesito corrupção, sempre citado como exemplo. Fica a sugestão.