sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ficha Limpa: entre o aparente e o real


A ser verdadeira a acusação de tráfico de influência que envolve o genro do ministro Carlos Ayres Britto, isso representará uma boa explicação para a paixão que cercou o julgamento da validade da Lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano, pelo Supremo Tribunal Federal.
Se verdadeira a acusação, todo esse “ardor” teria, afinal, razões bem mais objetivas do que a defesa da moralidade pública ou da fria letra da Lei.

É claro que é preciso garantir ao ministro a presunção da inocência.

Mas só essa concessão já é extremamente pedagógica, eis que o referido julgamento do Supremo quase resulta na implosão de garantias constitucionais igualmente importantes.

De todo modo, são gravíssimas as acusações que envolvem o genro do ministro, e que resvalam no próprio ministro, já que esse não seria o primeiro deslize do serelepe rapaz.

Se, a exemplo de Lula, Ayres Britto de nada sabia, tudo bem.

Mas se sabia e silenciou, será passível, no mínimo, de censura, mesmo que nada lhe coubesse na partilha desses três ou cinco milhões de reais em “pró-labore”, cobrados por seu genro para mudar o curso da decisão do Supremo.

E enquanto esse caso tenebroso não for devidamente esclarecido, Ayres Britto deveria era ter a grandeza, para não dizer decência, de se afastar daquela Corte.

As suspeitas em torno do genro de Ayres Britto são um duro golpe nos defensores da validade da Ficha Limpa já nas eleições deste ano.

Pela primeira vez transparece publicamente a possibilidade de que as motivações de alguns sejam bem menos nobres do que aquilo que nos tentaram “vender”.

E não que não intuíssemos as motivações eleitoreiras de alguns desses defensores, já que muitos deles não possuem votos nem para uma eleição a síndico de prédio, ao passo que os políticos que pretendem cassar são verdadeiros campeões de votos.

Sintomático, também, é o silêncio de muitas entidades, jornalistas e veículos de comunicação diante das denúncias que envolvem o genro de Ayres Britto – um claro sinal de que a defesa da moralidade pública varia ao sabor dos seus interesses.

Afinal, a possibilidade de tráfico de influência na mais alta Corte de Justiça do País é, certamente, muito mais nociva para a moralidade pública, e até para a Democracia, do que a eleição desses 100 ou 200 políticos que os defensores da aplicação imediata da Ficha Limpa pretendem cassar.

Tal comportamento é um alerta para os cidadãos que estavam a se deixar levar pelo uso que esses “guardiões da moralidade” estão a fazer dos bons propósitos da Lei da Ficha Limpa: a tentativa de tutelar o eleitorado brasileiro, cassando-lhe milhões e milhões de votos, para impor à sociedade, por strike, os seus próprios “querubins”.

E nem que para isso tenham de expor toda a sociedade a um risco imensurável, através do estupro da Constituição brasileira.

Sim, caro leitor, não se iluda: a aplicação da Lei da Ficha, como defendida por alguns, não passa de um estupro da nossa Constituição.

E nenhum país escapa impunemente de uma violência tão grande contra a própria Constituição.

.............

Deixo abaixo o link da matéria sobre o que seria uma das mais tenebrosas transações no Judiciário brasileiro (até porque envolveria o “leilão” de princípios constitucionais que nos protegem a todos), e os vídeos divulgados por Joaquim Roriz.

O link está aqui:

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI176024-18176,00-VIDEO+REVELA+NEGOCIACAO+PARA+EVITAR+VOTO+DE+MINISTRO+DO+STF+CONTRA+RORIZ.html










Atualizado às 15h37:


Aqui no IG tem matéria mais ampla e a íntegra dos vídeos

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/em+video+genro+de+ayres+britto+pede+r+45+milhoes+a+roriz/n1237788207090.html

5 comentários:

Anônimo disse...

Da mesma forma comtundente como se portou a favor da eficacia imediata da ficha limpa, poderia se apresentar agora o presidente da OAB. Talvez se posicione depois das eleições, quando vários candidatos já estiverem prejudicados.Não dá para acreditar em mais nada neste país.

Anônimo disse...

Da mesma forma comtundente como se portou a favor da eficacia imediata da ficha limpa, poderia se apresentar agora o presidente da OAB. Talvez se posicione depois das eleições, quando vários candidatos já estiverem prejudicados.Não dá para acreditar em mais nada neste país.

Anônimo disse...

Putz... Os melhores advogados que os políticos poderiam contratar são os jornalistas, aí incluídos os blogueiros. Escrevem bem, têm grande poder de persuasão a ponto de fazerem bandidos parecerem mocinhos, réus posam e vítimas e por aí vai...

Anônimo disse...

Sua reportagen e sua clara opinião - ainda que sorrateira - ofende a sua própria dignidade, é radicalmente covarde. Você deveria, permita-me dizer francamente, defender suas ideias à luz de argumentos e fatos, e sem forjá-los ou não fazê-lo à base de hipóteses ocas e malévolas. Achei ridícula a forma como voce insinua reproduz isso (materia). Fico a aqui a pensar, imaginando se seu genro fosse bandido e se valesse de seu nome, a sua revelia, para se dar bem. E as reportagens de todos os jornais a acusasse de ser a responsável pelos feitos dele. Bacana, né? Faça me o favor, vc foi ao extremo da má vontade.

Anônimo disse...

"O chicote da moralidade saiu das mãos do Aires de Brito".

O Ministro Aires de Brito deveria pedir pra sair. A OAB deveria iniciar a campanha nesse sentido.

Afinal, que Juiz, Ministro de Supremo, pode ter um parâmetro moral para julgar a cidadania, mas deixar de aplicá-lo quando julga a si mesmo e aos seus???????

Esse é o típico farisaismo...

Aliás, o próprio Ministro Aires disse, para condenar o Minisro do STj, Medina: "o júiz é como a mulher de César, não basta ser honesta, tem de parecer ser honesta".

francamente, o Ministro pode até ser honesto, e eu acredito que seja. Mas não parece ser honesto nessa coisa com seu genro e filha.

Eu, e toda a sociedade brasileira, não podemos afirmar com segurança se o Ministro já se julgou impedido em outros julgamentos, por interferência de sua família, ou se deixou de impedir-se, quando deveria fazê-lo, pela mesma razão, por participação de sua filha como advogada, nos autos.

Veja bem, Ana. Posso até ter outra visão sobre essa estória toda, mas o problema são os critérios do Ministro. Ele escolhe julgar com os princípios da moralidade. Então, deve atraí-los para si, para que seja um bom defensor da moral e se conduzir retamente, pos assim julga aos mortais...

por fim, como disse o Ministro Marco Aurélio: "o chicote é muito bom, o problema é que ele muda de mãos...."

O chicote da moralidade saiu das mãos do Aires de Brito.