sexta-feira, 9 de abril de 2010

Na berlinda: eu, um anônimo e as minhas fontes

Anônimo disse...



ei Ana Célia gostei da análise política que fizeste, mas no outro post continuas entrevistando fantasmas. Caramba, um texto com varias pessoas que não querem se identificar, é, no mínimo, sem nenhuma credibilidade. Ainda não sacaste que todo mundo já sacou isto?
9:27 PM
(na caixinha sobre a jogada brilhante de Duciomar Costa)

A minha resposta


Caríssimo anônimo:


Decidi trazer o seu comentário à berlinda porque estou tomando umas – tirei o dia de hoje pra mim, graças a Deus! – e porque eu acho que você, de fato, coloca uma questão importante: o anonimato de muitas das minhas fontes.

Pois bem, anônimo, vamos falar de anonimato!...

Em primeiro lugar, agradeço o seu elogio à minha análise.

Mas, veja só a ironia: como fiz uma análise pura, baseada, apenas, na minha lógica, nas minhas deduções, algumas das minhas fontes acreditam que “viajei na maionese”.

Algumas delas, até zangadas, me garantiram que o Dudu não está com essa bola toda; que, as seguidas matérias do Diário do Pará abalaram, de fato, a imagem do prefeito; que a falta de obras e o próprio estado da cidade estão sendo um veneno para o link que o Dudu sempre manteve com a população.

Com uma dessas fontes até argumentei: mas você não entendeu! Quando me referi ao poder do Dudu como cabo eleitoral, referi-me à máquina sob controle dele e não, necessariamente, à possibilidade de ele subir no palanque de A ou B.

A fonte, no entanto, me disse algo mais ou menos assim: você não o conhece! Ele jamais deixaria de carimbar o apoio, para poder apresentar a conta, antes e mais adiante...

Pra você ver, anônimo, a ironia: talvez que nem seja tão boa analista.

Mas, sou tão boa repórter que tenho fontes que, embora se mantenham no anonimato, cobram até a vírgula que consideram incorreta...

Estou me gabando? Estou sim.

Já vi algumas de minhas fontes se fecharem, calarem, mesmo diante de grandes repórteres. E voltarem a abrir o verbo, quando ficavam, novamente, a sós comigo.

É uma relação de confiança que não há dinheiro que pague.

Elas me dão a informação certinha, falam tudo. E eu, de minha parte, até pergunto, diante de alguma afirmação mais complexa: posso colocar isso na sua boca, ou o senhor (a) acha melhor dizer isso sem se identificar?

Mas, claro está, esse é o tipo de relação que só se conquista de forma suada, com a construção de credibilidade – e essa, graças a Deus, eu tenho sim.

Porque, se acrescentasse uma vírgula na declaração dessas fontes (o que seria tão grave quanto revelá-las) certamente que nunca mais elas me dariam qualquer informação.

Além disso, essas fontes sabem muito bem que não estão diante de uma chantagista – ou de alguém que, mais adiante, vai lhes pedir alguma coisa, ainda que subliminarmente, para não revelar que disseram o que disseram.

E aqui eu vou me gabar novamente: como essas pessoas sabem que não tenho outro interesse além da informação – nem dinheiro, nem poder, nem status, nem mandato; como elas sabem que sou suficientemente honesta para não querer delas, nem hoje, nem amanhã, nada além de informação, elas se concedem o luxo de confiar em mim.

E eu dou graças a Deus por isto: por Ele ter me concedido a possibilidade não apenas de ser honesta, mas, de convencer mesmo as pessoas mais empedernidas, da minha honestidade.

É engraçado isso, anônimo: até que sou boa quando se trata do marketing alheio, mas, sou simplesmente lamentável quando se trata do meu próprio marketing.

Este blog, a Perereca, já antecipou uma quantidade enorme de informações, que, depois, alguns blogs por aí pinçaram, deram uma guaribada e lançaram para os seus leitores como notícia exclusiva...

E é preciso salientar que tais informações da Perereca, depois simplesmente clonadas, partiram, não de mim, mas, dessas extraordinárias fontes que me dão a honra da sua inestimável confiança.

(E estou, sim, anônimo, puxando o saco delas... Até porque, sem elas, sou uma reles repórter de porta de cadeia...)

Gostaria de ter a capacidade que algumas pessoas me atribuem: de “criar” diferentes opiniões sobre um mesmo “causo” e construí-las em diferentes linguagens.

Mas Deus deu a Fernando Pessoa essa capacidade – não a mim...

E eu tenho de me contentar com a humildade de reproduzir as falas e pensamentos alheios, com a “maneirice” de cada qual.

Levei toda uma vida, sabe, anônimo, para chegar até aqui...

Quando comecei em jornal, há 30 anos, não tinha nem o ensino básico.

De sorte que, quando alguém me dizia alguma coisa, eu ficava: heim? Como?

Errei muito no começo – devido à pura e simples ignorância.

Muitas vezes, as pessoas falavam e eu sequer compreendia o começo do que elas diziam...

Mas aí busquei o que compreendi, graças a Deus, que era importante: ler.

Não que isso fosse uma dificuldade para mim, já que ler sempre foi uma paixão, desde a infância.

Mas porque era difícil encontrar o que ler, numa família que jamais valorizou a leitura.

Quando criança, meu passatempo era ler os livros escolares das minhas irmãs, bem mais velhas que eu.

Tive aí lições bem rudimentares de francês e até conheci as canções de amigo, do quinhentismo português, se não estou enganada.

Foi engraçada a minha infância: eu lia como bem poucas crianças, e elas riam de mim, porque eu lia com a correção de bem poucas...

Depois, vi-me diante da biblioteca de um tio, que, embora “cupinizada”, deu-me Gulherme Tell, “O Vermelho e o Negro” e “O Morro dos Ventos Uivantes”.

Passava horas, deitada no chão, a ler ansiosamente, antes que jogassem fora aquilo tudo.

Depois, com a adolescência, veio a independência: apaixonei-me por Vinícius, José de Alencar, Castro Alves, Manuel Bandeira.

Mais tarde – bem mais tarde – dei de lapidá-los com Fernando Pessoa, Camões, Machado de Assis.

E, na idade adulta, amadureci nas asas de um Heráclito...

De sorte que, mesmo a duras penas, aprendi a compreender o que as pessoas me dizem – o que é fundamental à reprodução do pensamento alheio.

Ao contrário do que dizem por aí, anônimo, não tenho talento: tenho é toda uma vida de esforço pessoal...

Lutei contra a maré: o fato de ser mulher – e de a arete feminina não ser a inteligência – e o fato de não nascer em uma família que valorizasse o conhecimento.

Construí-me, enfim.

E quem se lembra de mim daquela época, deve se lembrar, também, do pão com ovo que eu comia no almoço, a fazer as vezes, também, de café da manhã...

Nada para mim foi fácil, “concedido”: tudo, cada milímetro de espaço, foi duramente conquistado.

E é por isso que eu valorizo cada milímetro do espaço que tenho hoje.

Um abraço pra você, anônimo.

E um abraço pra todas essas fontes extraordinárias, poderosas, que dão à Perereca o impacto que efetivamente tem.



FUUUUIIIIIIII!!!!!!!


Pra minha xará (béééééééééééééééé´)


4 comentários:

Anônimo disse...

Veja essa...

Joana Pessoa perde ação contra Veja
Escrito por Ronaldo Brasiliense
Sex, 09 de Abril de 2010 07:21
"Verifica-se, claramente, que a movimentação da conta corrente (de Joana Pessoa) não é compatível com os recursos recebidos por uma funcionária publica." (Trecho da sentença da juíza Patrícia de Oliveira Sá Moreira contra Joana Pessoa, hoje presidente do Hangar)

Joana Pessoa, presidente da Via Amazônia, organização social que comanda o Hangar, Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, segunda-amiga, ex-chefe de gabinete no Senado e caixa de campanha da hoje governadora Ana Júlia Carepa (PT) na disputa da Prefeitura de Belém, em 2004, quando Ana Júlia foi derrotada,, perdeu a ação que movia contra a revista Veja por danos morais. O "furo" é do blog do antenado repórter Paulo Bemerguy. Transcrevo parte da sentença da juíza PATRICIA DE OLIVEIRA SÁ MOREIRA. Leia a íntegra aqui: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com/

"

Charles Alcantara, disse...

Estimada Ana Célia,
Na condição honrosa de uma de suas fontes, não posso deixar de declarar que tudo o quanto conversamos - poucas vezes, lamento - foi tratado por você com a mais rigorosa ética profissional.
Meus respeitos,
Charles Alcantara

Val-André Mutran  disse...

Ei Ana.
Na próxima aula, mande a fatura para o anônimo.
Quem sabe ele não aprenda alguma coisa sobre fazer jornalismo.

Anônimo disse...

como gosto de lhe dizer Perereca, você é duka, mas gostaria que fosses mais incisiva, porque não fazes esquetes, em vez desse textões longos, aí a coisa ficaria bem supimpa, vc ia soltando devagar, e aí a tensão aumentava etc etc
gostei de saber que vc é da turma do trabalho pesado
abs e curta seu dia