segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Na Carreira




Tenho pensado muito em ir-me embora daqui, do Pará.


Na minha cabeça vai se afirmando a certeza de que já não há nada para mim, aqui.


Não há jornais, não há jornalismo.


E eu, quase a emplacar 50 anos, meio século!, não sei fazer nada além disso.


Fico pensando que, se tivesse insistido um pouquinho mais, teria entrado em um dos maiores jornais do Brasil. E até mesmo em um grande jornal do exterior.


Em ambos os casos, passei na peneira da seleção de texto.


Chumbei, no primeiro, por falta de conhecimentos profundos de economia; no segundo, pelo meu paupérrimo inglês.


Mas sei que chumbei, principalmente, por não insistir. Afinal, simplesmente, deixei pra lá...


Porque a verdade é que nunca consegui imaginar a minha vida longe de Belém.


Todas as cidades sempre me pareceram menores; espécie de dejá vu.


Nenhuma com o gosto de um açaí com pirarucu; nenhuma com o cheiro de um tucupi a me fazer quase que levitar em busca de.


Nenhuma com o cheiro de uma maniçoba a transcender a cozinha, a sala, a casa, as ruas.


Nenhuma com as mangas que encantaram a minha infância.

Nenhuma com o cheiro da chuva que aprendi a reconhecer a quilômetros.


Nenhuma com esta beleza infinita da nossa Belém.


Hoje, porém, nem essa beleza me enfeitiça.


Madura profissionalmente, penso que, talvez, tenha chegado a hora de partir. E partir definitivamente.


Penso em São Paulo; mais provavelmente, em Brasília.


Tenho lido o jornalismo que se faz lá fora e sei que posso fazer um pouquinho melhor, especialmente, na área política.


Aqui, já não há nada pra mim.


Poderia voltar à assessoria de imprensa, que sei fazer, modéstia à parte, muitíssimo bem.


Mas essa fase é alguma coisa que deixei pra trás; é um conhecimento interessante, mas, não é o que quero fazer.


Sempre tive com o jornalismo uma relação de amor e ódio.


E, bem vistas as coisas, com quase tudo na vida.


Mas, com quase meio século no costado, tenho de admitir que não vou conseguir fazer mais nada na vida.


Não que não possa: poderia vender comida, ser escritora, consultora de sei lá o quê.


Mas, duvido muito que encontrasse alguma coisa que me desse tanto prazer na vida quanto uma bela reportagem investigativa.


Ou uma bela reportagem, simplesmente.


O que ainda me prende é o blog do Vic.


Estou nervosa, ansiosa.


E, feito menina, vou experimentando todos os vestidos, para a hora em que entrará no ar.


Sempre tenho medo, a cada reportagem, a cada postagem.


Simplesmente, porque nunca consegui aceitar menos que o melhor.


Padeço de uma insegurança braba.


A desvantagem? Sou mais lenta que a maioria.


A vantagem? Difícil contestar o que escrevo.


Leio e releio cada reportagem, para encontrar alguma brecha.

Sofro, que nem sovaco de aleijado, até me certificar, através da publicação dos jornais e blogs, de que foi, realmente, um furo.


Daí que, talvez, entre as centenas, milhares de matérias que publiquei, haja uma ou duas passíveis de alguma contestação.


O perfeccionismo é uma praga, mas chega a ser um dom na reportagem investigativa.


A gente pega e checa duas, três, quatro vezes a mesma declaração e o mesmo documento; tem de saber se é isso mesmo, se não há, pelo caminho, alguma falsificação. Tem de olhar com desconfiança até a fonte, eis que ela tem inúmeros interesses. E tem de avaliar até a nós mesmos, para ver se não estamos sendo suficientemente “frios”; se estamos nos deixando levar por meros sentimentos.


E por que estou apostando no blog do Vic?


Porque decidi apostar na oferta de um espaço livre de comunicação.


Não sei se dará certo e estou nervosa demais, ansiosa demais para afirmar o que quer que seja.


De qualquer forma, sei que tenho de abrir mais esse caminho.


Toda a minha vida tem sido isto: abrir caminhos.


Caminhos por onde, depois, outros enveredam – e eu fico puta, e nem deveria, porque já não me é dado enveredar por tais caminhos, também.


A minha vida tem sido isto: colocar o guizo no pescoço do gato; porque ninguém se habilita; os outros têm vergonha ou medo.


Já abri mais caminhos nesta profissão do que mil diplomas. E nunca vou me conformar por não ter diploma...


O blog do Vic é, enfim, mais um caminho que estou a abrir.


Tem mais um que gostaria de ter aberto: o de uma potente estrutura de comunicação no Nordeste do Pará.


Feito isso, aos coleguinhas e à sociedade paraense, não terei mais motivo algum para continuar aqui.


Vou-me embora, cuidar da minha vida.


À procura de reconhecimento? Talvez.


Mas, certamente, à procura de jornalismo.


À procura, enfim, do meu grande amor.




FUUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!







6 comentários:

Anônimo disse...

sabe qual é o seu problema perereca? Voce é muito aloprada! Por isso não se firma em lugar algum, és uma pessoa de dificil lida, e não mede consequencias de seus atos, és extremamente passional e quando não vai com a cara de alguem voce exagera nas criticas, chega as vias do chingamento, apela pra baixarias, o que descredencia suas palavras.
Por isso estas sem mercado, uma pena, pois quando voce resolve focar no seu "oficio" voce consegue ser muito competetente, produzindo grandes reportagens.

Anônimo disse...

É, você tem todos os motivos de se preocupar e pensar muito bem sobre a sua carreira, o tempo é o senhor da razão.

Sidclay disse...

Nosso território é vasto e precisa ser coberto por você.
O Pará talvez não sinta sua falta, alguns até alívio sentirão.
Levará mágoas e angustias no coração, mas não será em vão.
Que sua mensagem, amparada pela maturidade e experiência retumbe em outros ouvidos e corações.
Siga em frente!!!!!

Anônimo disse...

Que Deus te proteja e te mostre o caminho

Anônimo disse...

Ana, me perdoa, mas após ler sua postagem me encontrei na desconfortável posição de não saber se te afago ou te aplico umas palmadas...
Chegando aos cinqüenta, mas com a birra própria dos dezessete, vc (não sei se novamente, outra vez ou de novo já que perdi as contas) nos brinda com o amargo desabafo de querer ir-se daqui.
Entendo seu desconforto profissional e essa sensação de "quê cô tô fazendaqui" que se bate sobre todos nós vez por outra, como há muito, enquanto filhos, tbm nos vinha qdo nos sentíamos menos amados por mãe ou pai (vale ao que mais nos contrariava os impulsos) e que, somada aos hormônios que ebuliam resultavam em explosiva combinação. Tinha gente que saía de casa, comia o pão que o diabo assou depois de apropriada sova e voltava - rabo entre as pernas, e se vivia tudo, tudo de novo.
Ana, aqui é nossa In-passárgada, onde podemos até não ser amigos dos reis, mas tbm não somos as moscas das cozinhas ou os carrapatos das estrebarias, entende? Ainda assim, estamos em casa.
Me dizes almejar jornalismo investigativo de qualidade, o que, se entendi, não se faz pelos lados daqui como em outras paragens. Se é a emoção da investigação que almejas, pode ser feita aqui mesmo onde muito tens a descobrir sobre os mandos e desmandos dos que se dizem porta-vozes do povo: eles cobrem e vc descobre. Simples assim.
E qto a qualidade, essa, minha cara, é vc que empresta ao que escreve, e eu espero não ser preciso dizer que a “Ana Célia” colaborou com a estatística que faz de Belém uma terra de “já teve”.
Mas o que eu quero mesmo é perguntar o que será de Barbalhos, Carepas, Jatenes, Gabriéis & Cia sem vc a, senão mantê-los na linha, nos mostrar aquilo que nossos olhos não viram enquanto eles diziam “nada nessa mão, nada na outra...” enquanto a coisa pública do Pará vai sendo inacreditavelmente prestidigitada.
Ana Célia, ser político no Pará em geral e em Belém em particular, sem vc, não terá a mínima graça. Afinal, de que adianta ser eminência parda sem ter uma vc a desobscurecer essa ou aquela manobra, onde deu-se a entender que a ré seria engatada, o que se viu foi a entrada na curva em duas rodas e sem usar a buzina: mas, o motivo real só vc nos poderia explicar.
Enfim, pense nisso e, se ainda assim vc achar que não é mais necessária, ainda assim, pense de novo, viu?!?
Vamos tomar outra?

Edson Pantoja.

Anônimo disse...

Porque você não segue o exemplo do Lucio Flavio Pinto?
Um outro "jornal pessoal" que fala de política seria muito bem vindo.

Gallo Marketeiro.