segunda-feira, 8 de junho de 2009

Racha2

Tucanos negam divisão



I


Campeão em sapateado de catita, o PSDB fez de tudo para esconder a gravidade da disputa interna que opõe o senador Mário Couto ao ex-governador Simão Jatene.


Mesmo na quinta-feira, já com a presença, em Belém, do presidente nacional do PSDB, para tentar apaziguar os ânimos, lideranças tucanas ainda tentavam minimizar a dimensão do problema.


“Não existe isso de ‘fumar o cachimbo da paz’; não há uma briga pessoal, mas, dois postulantes ao Governo”, disse-me um deputado estadual, “E a gente está discutindo isso com a maturidade que a democracia requer”.


Segundo ele, os tucanos têm clareza da importância de ambos – Jatene e Couto.

Mas, observa:


_Após as eleições, começamos a construir uma unidade partidária. Tínhamos de buscar uma liderança e fomos com o Jatene, pelo que ele representou para o Pará. Ele fez um governo sem apoio federal, que tentou até prejudicar a administração dele. E mesmo assim Jatene fez um governo competente, com marcas extraordinárias e terminou o mandato com altos índices de aprovação popular.


O deputado salienta que Jatene teve a possibilidade de se candidatar à reeleição e não o fez, “em função da unidade partidária”. Além disso, sustenta, Jatene representaria, hoje, a “esperança” da sociedade paraense, em função do “fiasco” da administração petista.


Essa, aliás, seria a convicção dos dez deputados estaduais tucanos, todos unidos em torno de Jatene.


“Não temos nada contra o Mário Couto”, disse o deputado, “Temos muito respeito por ele, mas, achamos que Jatene representa o sentimento da sociedade paraense”.


E arrematou: “Nosso candidato será um só, sem brigas; estaremos todos juntos, no ano que vem”.


Dono de uma competência técnica reconhecida até nos arraiais petistas, Jatene seria, hoje, o candidato predileto dos prefeitos tucanos & aliados. Teria, também, maioria entre os filiados do PSDB, incluindo os históricos.


Mas, e se, ainda assim, o senador Mário Couto mantiver a sua candidatura?


“Não há a menor hipótese de uma disputa na convenção”, afirmam dois emplumadíssimos tucanos. Segundo eles, o partido sequer trabalha com a hipótese de Couto e Jatene “baterem chapa” na convenção.


No máximo, confidencia um deles, haverá uma prévia partidária – um fato também inédito no PSDB paraense. “Mas, ainda esperamos um entendimento antes disso”, assinala.


E quanto ao ex-governador Almir Gabriel?


Um deles responde: “Almir é um nome respeitado por todos. Aqui e no Brasil, ele tem o reconhecimento da importância da liderança dele, do trabalho que fez. Ele tem de ser preservado disso”.


O outro tucano, com certa razão, pondera que nem é assim tão dramática a existência de dois pré-candidatos fortes ao Governo Estadual. “Ruim seria é se não tivéssemos nenhum”, observa.


O problema, então, parece ser o patamar em que se travará tal disputa – que deve se acirrar mais e mais daqui pra a frente.


Daí que esse tenha sido um dos pontos de pauta das reuniões do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, com Mário Couto, Almir Gabriel e Simão Jatene.


“A vinda do Sérgio Guerra foi exatamente no sentido de que a campanha interna seja feita num nível que permita definir o candidato e que os dois estejam juntos”, contou um tucano, “Nosso adversário está fora, não dentro do partido. É válida a postulação de um candidato, mas, temos de ter um trabalho de união. A discussão não pode conter ataques pessoais”.



II


Difícil, porém, é acreditar que Mário Couto mantenha essa disputa, no saudável patamar das competições democráticas.


Afinal, foi do senador que partiram ataques pesadíssimos contra Jatene, acusado, com todas as letras, de traição, durante um almoço, no sábado, no Residencial Parque Verde (leia o post Racha1).


Além disso, a própria agressividade de Couto desautoriza a imaginar que ele possa assumir, eventualmente, um perfil “paz e amor”.


“Há pouco tempo”, diz-me uma fonte, “o Mário estava no interior e o Jatene foi se encontrar com o Sérgio Guerra, em Brasília, sem que ninguém soubesse. A pedido do Flexa (senador Flexa Ribeiro, presidente estadual do PSDB) o Guerra se encontrou com o Jatene, no cafezinho do Senado. Mas, alguém viu e avisou o Mário. E ele, então, agrediu o Flexa, por telefone”.


Segundo a fonte, Couto teria dito, aos berros, ao conciliador e recatado Flexa Ribeiro: “Seu FDP!... Retiro a promessa da tua reeleição. Tu não vais te eleger nem a vereador!”.


Outro problema seria a tentativa de Couto de forçar uma decisão “de cima pra baixo”, no Pará. Quer dizer, vinda a partir da direção nacional do PSDB.


“O Mário já disse que, se até junho isso não estivesse decidido (a candidatura dele pelo PSDB paraense), ele pediria um ano de licença. Com isso, quem assume é o Demétrius Ribeiro (o primeiro suplente de Couto). E isso, eu creio, é para forçar as coisas, via Brasília”, contou a fonte.


Também segundo ela, já até haveria uma tendência pró-Couto na direção nacional do PSDB: “Ele (Couto) está permanentemente em Brasília e isso cria um vínculo com os parlamentares do partido”, observa.


E seria esse prestígio junto ao PSDB nacional que Mário Couto estaria se preparando para demonstrar, em seu casamento, no próximo dia 18, em Belém.


Couto estaria tentando trazer ao casório deputados e senadores do PSDB e até o principal pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra – desde sempre, a menina dos olhos de Simão Jatene...


Se isso acontecer, será um grande feito de marketing político.


Porque, mesmo que não tenha, realmente, o apoio de todas essas lideranças às suas pretensões ao Governo Estadual, o senador passará à opinião pública e aos correligionários interioranos a certeza desse prestígio.


Exatamente como aconteceu naquele almoço, no Residencial Parque Verde – do qual, na verdade, alguns dos duzentos convivas saíram é embasbacados com o tom das críticas de Couto a Jatene.


Difícil, também, é acreditar que Mário Couto desista de suas pretensões, mesmo que uma prévia do PSDB indique ampla vantagem a Jatene.


Não apenas pelo apoio incondicional do ex-governador Almir Gabriel.


Mas, também, porque, lá pelas tantas, talvez possa até contar com o apoio do “mui amigo” PT.


Como, aliás, já aconteceu nas “intervenções brancas” dos petistas em outros partidos – o que, quer se goste ou não, não deixa de ser inteligente e democrático...


De resto, é improvável que a direção nacional do PSDB resolva, de fato, queimar pestanas em torno do que é melhor para o Pará ou para o PSDB do Pará.


E isso não apenas em relação à direção do PSDB, mas, do PT, do PTB, do DEM – e de quaisquer outras legendas.


Porque daqui todos só se lembram, de fato, na hora de subtrair as riquezas.


E só.

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