quarta-feira, 29 de abril de 2009

Rose

Para a minha grande amiga Rose Gomes




Minha querida Rose Gomes:






“Nega”, de certeza que não estou zangada com você.




É preciso muito para me zangar com alguém. Mais ainda com uma pessoa como você, de quem eu gosto muito, aliás.




Já tinha até dito isso a algumas colegas, amigas comuns, pra quem você ligou, que iria colocar alguma coisa neste blog, acerca de todo esse lamentável episódio da Fadesp.




Perdoe-me se não o fiz mais cedo: é que tenho andado meio atarantada a ver o que vou fazer da minha vida.




Não, Rose, não fiquei “desempregada” como você pensou, aflita, com medo de ter me prejudicado a esse ponto.




Graças a Deus, nunca fiquei “desempregada”: quando saio de um lugar, tenho é de ficar remoendo, numa angústia infinita, o que vou fazer afinal; qual a próxima empreitada em que vou me meter.




Feliz ou infelizmente, como já te disse uma amiga nossa, quando saio de um emprego tenho à frente cinco ou seis propostas sobre as quais preciso é meditar.




E, tudo isso, não deixa de ser espécie de “consumição”.




Quer dizer: tenho de pesar os prós e contras do que vou fazer – e logo eu, com essa indecisão enorme, que todo mundo que me conhece sabe bem.




Mas, certamente, não será nada além diante da maioria de nós, que sequer pode ficar se consumindo em relação a “escolhas” desse tipo.





Eu sei, querida, que a barra pesa!...




Daí que nem ouso me tomar, me oferecer para exemplo do que quer que seja, na maioria das vezes.




Só quando se trata de cuidado com o trabalho, porque eu sei que os “coleguinhas” gostam muitíssimo é de sombra e água fresca...




Mas, de resto, querida, não faço isso: sei que alcancei um patamar nesta profissão que não dá simplesmente para dizer: “vem atrás de mim!”.




Até porque tenho uma “retaguarda” de origem, social, que alguns de nós, os melhores de nós (como é o seu caso, querida) simplesmente não têm.




Os melhores dentre os nossos colegas jornalistas vieram, ainda, de lá da Terra Firme e da Pratinha.




E por isso mesmo, “Nega”, seria quase que um escárnio se eu esperasse que tivessem a mesma possibilidade de “jogo”, de movimentação que eu tenho...




Dito isso, minha amiga, minha querida amiga, vamos pensar um pouquinho no que você fez.




Não lhe tenho mal, não penso e nem jamais pensarei que você é mau caráter.




Quem de te conhece, Rose Gomes, sabe que você é uma pessoa linda, bacana à beça!




Uma “negona”, daquelas “negonas” que a gente simplesmente ama, precisa conhecer!




Mas, querida, a verdade é que você meteu o pé na jaca!...




Não adianta, querida: você acionou o Lúcio, a Sílvia, a Hanny – e tantas outras pessoas que nós duas sabemos que são pra lá de bacanas.




Mas, querida, você não vai conseguir me convencer de que não fez o que fez.




E por quê?




Em primeiro lugar, querida, porque, no meio de uma porrada, eu vou preferir confiar nas informações que recebi ANTES da “declaração de guerra”; ANTES que as baterias anti-aéreas estivessem a postos, pra modo de dizer.




Ora, ANTES desse episódio que resultou na minha saída de O Liberal, qual era a informação que eu tinha?




Respondo: a de que a jornalista Rose Gomes ligara para o Ronaldo Maiorana, porque “queria ser ouvida”. (uma informação, aliás, confirmada e “reconfirmada” mesmo depois dessa confusão, diga-se de passagem...)




E eu te digo uma coisa, querida: até estranhei! Porque, como você tem o meu telefone e já tomou comigo nem sei quantas cervejas, eu jamais esperaria que você ligasse para o dono do jornal, ao invés de ligar diretamente para mim, né mermo?




Nem que fosse para dizer (e eu peço licença aos leitores): ó sua fodida, o que é que você tá escrevendo aí?




Porque você, querida, como bem poucas pessoas, tem a possibilidade de falar comigo nos termos que quiser, sem que eu me sinta ofendida.




Simplesmente, porque eu já conheço tanto você que, se você me mandasse pro inferno, pelo telefone, eu saberia distinguir, mesmo que à distância, a intenção disso.




E para mim, Rose, mais que as palavras, importam bem mais as intenções...




Lembro que você até riu, ao telefone, na sexta-feira – como eu disse, aliás, a uma amiga. Mas riu – como eu disse a ela - não com má intenção, mas, para tentar me acalmar, para me fazer “brincar”. Porque eu estava furiosa pelo fato de você ter ligado para o dono do jornal e não para mim.




Que é que isso, Rose?




Nesta categoria fumada, escrota e cheia de “mumunhas”, somos, todos, “bona gente”, né mermo?




Tudo anjo, né mermo?...




Até para sobreviver, né mermo?...




Mas, pera lá!...




Tem um limite, um código não escrito que diz o seguinte, cabocla: patrão pra lá, a gente pra cá!...




Logo, a gente resolve entre a gente as nossas “cagadas”.




E, bem mais que isso, Rose: informação, notícia, é o nosso objetivo primeiro. E ponto.




Não é pra cá chamado o editor, o chefe de reportagem, o editor-chefe e, muito menos – e ponha muito menos nisso – o dono do jornal!




Essa coisa de ligar pro dono do jornal é lamentável, Rose!




Sei que tu não fizeste isso por mal. Sei disso!




Mas, querida, a gente, nós todos, jornalistas, temos de discutir isso, porque não é uma coisa “privada” – em verdade, como se trata de notícia veiculada por um jornal, diz respeito a todos nós (e não só a nós, “catiguria”, mas, à sociedade como um todo).




É cruel, isso, Rose!...





Por mais que eu queira acreditar em ti, as evidências, os indícios, os fatos depõem contra ti!...




E o que eu posso pensar, como sei que és uma pessoa linda, bacana, é que não fizeste isso por mal. Mas, naquela ânsia de “resolver” um problema do assessorado.





Compreendo isso; não estou nem com raiva, nem sentida em relação a ti – talvez, é verdade, um pouquinho decepcionada.




Como disse a uma amiga, assessorei a Funcap quando a instituição só levava porrada nas páginas policiais.





Fiquei na Funcap apenas um ano – mas, tirei a Funcap das porradas das páginas policiais para elogios enormes no jornal da Globo, porra!




E sabes quantas vezes, querida, liguei para o dono de um jornal ou, ao menos, para um editor, para tentar “derrubar” matéria?




Nenhuma, querida. Nenhuma!




Podes perguntar por aí!




Lutava era para emplacar uma pauta. Ah, aí, sim, eu virava bicho!...




Ligava para o repórter, o editor, o chefe de reportagem, o pauteiro, a tentar “vender” o meu material; o material da instituição.





São as regras do jogo, Rose: a gente conversa “de pé de ouvido” com o colega; faz com que ache a matéria tão bacana como a gente acha; gasta “cuspe” e convence, “Nega”!...




E eu te digo, querida: muito mais respeito têm pela gente os nossos “coleguinhas” quando agimos assim, apenas na base da “gastação de cuspe”...




Devo a ti, querida, essa reparação: apesar do que fizeste – e nós duas sabemos que fizeste, tanto assim que não ligaste para mim, para “aplicar” essa inocência toda... – essa reparação de saber que não és uma pessoa ruim, mau caráter, nem nada parecido.




És, em verdade, uma pessoa bacana que, simplesmente, meteu o pé na jaca, como todos nós metemos, todos os dias, aliás.





E tu e os “coleguinhas” se surpreenderiam se eu me pusesse cá a falar das vezes em que já meti o pé na jaca, como todos nós – todos! – fazemos todos os dias.





Acho que nós, os jornalistas, precisamos é discutir tudo isso.




Mas, tenha certeza, querida, minha “Negona”, se alguém ousar te amarrar na fogueira, eu vou estar na praça – e não apenas para apagar o fósforo.





Mas, para gritar: se alguém quiser queimar a “Nega Rose”, que queime primeiro a mim!...






FUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!





Abaixo reproduzo a mensagem que a minha querida amiga, a “Negona-sem-blog”, me enviou e a algumas pessoas:





“Prezada Ana Célia Pinheiro,





Estou na idade de preservar os amigos e não de perdê-los.




Por isso decidi lhe escrever e esclarecer o que acredito que você no íntimo já saiba: em nenhum momento escrevi e muito menos acrescentei parágrafos na sua matéria.




Não o fiz em primeiro lugar porque a ética deriva do caráter e não sou mau-caráter, você sabe disso.




Quando falei com você não disse que iria mandar nada escrito para o jornal.




Em segundo, porque não tenho esse poder - e nem que tivesse o faria pelo primeiro motivo exposto – junto ao grupo ORM.




Atuei como assessora de imprensa tão-somente. E fui até onde minha consciência permitiu.




Pela minha história familiar, profissional e acadêmica, não poderia agir da forma presumida por você, em seu blog, sob pena de nunca mais dormir.




Da onde a gente se conhece?




Das pautas da vida, não é mesmo?




De mobilizações sindicais por direitos sociais e, particularmente, pelos nossos, os da nossa categoria.




De debates sobre tais direitos, de preocupação com amigos em comum.




Mas, nunca, nunca mesmo de lados diferentes do balcão.




Estou assessora, mas nunca deixei de ser jornalista.




Acredito que dá para conciliar os dois, com sacrifício, é claro.




Sou trabalhadora da área, não empresária.




Formada sim na maior instituição pública de ensino superior da Amazônia, a UFPA; e hoje estou mestranda em uma das maiores particulares da região, a Unama, também com muito sacrifício, diga-se de passagem, pois são parcos o dinheiro e o tempo para isso (isso também você sabe, acredito).




Faço esse investimento, cara Ana, não por causa do simples título, mas porque busco o conhecimento na nossa área.




Porque acredito que, com o apoio dele (conhecimento) posso ajudar na construção de um mundo melhor, frase clichê, mas que traduz o meu sentimento, meu objetivo, o qual não deixa de se assemelhar com o seu quando você escreve uma matéria investigativa.




Talvez minha formação não represente nada pra você.




Mas, acredito que a amizade representa, não é mesmo?




E quando há amizade, há o respeito, há admiração.




Às vezes há equívocos, mas eles devem ser consertados, esclarecidos sempre, em nome do que o jornalismo busca: a verdade.




Como não tenho blog, mandarei com cópias para alguns de nossos muitos amigos.





Um grande abraço, Rose Gomes”

11 comentários:

Hanny disse...

Querida pererequinha!

Apenas para esclarecer um ponto: a Rose não me procurou. Aliás, faz muito tempo que não falo com a "nega".
Entendo as duas e o assunto rende, sim, um bom debate.
Beijinhos
Hanny

Anônimo disse...

Esse preconceito social demonstrado na sua postagem com relação aos bairros da Terra Firma e Pratinha só alimenta outros que vêm de São Paulo ou Rio de Janeiro, que dizem que as pessoas de Belém ou qualquer outra capital do norte não estão preparadas intelectualmente ou ainda os comentários que partem da Europa ou dos USA quando afirmam que o Brasil é terra somente de assaltantes e prostituição. Ou seja, cara perereca, sempre se encontra preconceitos para detratar os semelhantes. Um chá de simancol pode até resolver o problema, sem açúcar.

Anônimo disse...

Ana Célia,

Fiqueir curioso com a foto postada no pórtico de seu blog.
Quem é o sexteto que serve de Comissão de Frente na mobilização (passeata?)que as seis divas aparecem serelepes e altaneiras.
Sugiro uma legenda para indicar os atores (atrizes) dessa histórica aparição. Onde andam, o que fizeram, o que resultou tal mobilização, enfim, essa foto, usando um termo batido no momento, é emblemática.
Penso que não é so eu quem ficou querendo saber quem são as beldades.

Ana Célia Pinheiro disse...

Hanny:

Desculpa a confusão – mas, como a Rose ligou cedinho para o Lúcio e a Sílvia e me ligaste pouco depois, ou no dia seguinte, imaginei que ela tivesse te ligado, também.

Também compreendo a Rose e continuo gostando muito dela.

Mas, também penso, da mesma forma que você, que isso rende, sim, um bom e necessário debate à “catiguria”.

Fico sempre muito feliz em ter você aqui, querida!

Um abração bem grandão,

Ana Célia

Ana Célia Pinheiro disse...

Ao Anônimo das 10:19:

Querido (a), infelizmente, creio que você não entendeu o que escrevi.

Em qualquer momento expressei “preconceito” em relação ao pessoal da Terra Firme e da Pratinha – simplesmente, porque não tenho esse tipo de preconceito.

Na postagem contra a qual você se insurge, tudo o que fiz foi CONSTATAR a impossibilidade de uma pessoa oriunda de família pobre, por vezes, paupérrima, ter a mesma possibilidade de movimentação que eu, que nasci na classe média.

Isso não é mérito ou demérito, nem para mim, nem para a dona Maria ou o seu José, da Pratinha ou da Terra Firme.

É, pura e simplesmente, um fato.

Preconceito – e, mais que isso, falta de senso – seria se dissesse: caramba, se eu faço, por que é que esse cara não faz, também?

Caramba! Se amanhã não tiver dinheiro para pagar a luz da minha casa, a minha família, ou algum amigo mais fornido, vai ajudar.

Mas, e a dona Maria e o seu José? Eles vão poder fazer isso sem que isso lhes custe, pelo menos, uma refeição?

E pode ser até que consigam, num mutirão, bancar aquela conta. Mas, de qualquer forma, será bem mais difícil e exigirá muito mais sacrifício.

E isso, como eu já disse, é tão somente um fato – nada que abone ou desabone, ou aumente ou diminua quem quer que seja!...

Mas, agora, vamos transpor isso tudo que eu disse para um exemplo concreto.

Vamos supor que um colega jornalista oriundo da Terra Firme ou da Pratinha; ou seja, uma pessoa que, apesar de todas as circunstâncias em que nasceu e viveu conseguiu cursar uma faculdade – e isso, mano, tenha certeza, já faz desse colega quase que um herói!... - tem amanhã uma matéria “enxertada”, como eu tive, apesar de mantida a assinatura, num grande jornal.

Ele (ela), obviamente, ficará indignado(a) e terá vontade, certamente, de fazer a mesmíssima coisa que fiz – ou seja, denunciar no único espaço disponível, no caso um blog, a violência de que foi vítima; o crime praticado não apenas contra ele, autor da matéria, mas, contra a informação.

Mas, aí eu lhe pergunto: será que esse colega que veio de lá da Pratinha ou da Terra Firme, de família pobre, portanto, à qual, muitas vezes, é ele a ajudar – sim, porque, muitas vezes, foi o único que conseguiu “chegar lá” – será que ele poderá, com as trocentas bocas que tem para sustentar (a mulher, os filhos; ou o marido e os filhos; a mãe, o pai, os irmãos) será que ele poderá simplesmente dizer, como eu disse: pira, paz, não quero mais? Olha, fiquem aí com esse emprego, porque eu não aceito o que vocês fizeram? Será que ele (ou ela) poderá, simplesmente, agir assim?

Caramba, se até para mim, que tenho origem na classe média, núcleo familiar pequeno e amigos com disponibilidade de caixa isso é difícil, avalie, então, para quem não tem tais condições!...
O sujeito vai olhar – como provavelmente eu também olharia – para a mulher ou o marido que já não tem mais como ajudar em casa; vai olhar para o filho que precisa de um lápis ou de um copo de leite; vai olhar para a casa que nem é dele e que ele precisa conquistar – vai olhar para tudo!... Todo o sacrifício dele – e não só dele, mas, dos pais e dos irmãos – que está por trás da conquista que foi essa faculdade que cursou e o emprego num grande jornal.
E sabe o que é que vai acontecer? Provavelmente ele(a) vai relevar esse “enxerto” no seu texto. Vai engolir em seco esse sapo aru – como, aliás, eu engoliria, também...
Não somos apenas nós, mas, também – e até principalmente – as nossas circunstâncias; disse, certa vez, um grande intelectual.
E a nossa circunstância primeira será, sempre, a sobrevivência, até por uma questão biológica – que não se acaba em nós, mas contempla, sobretudo, a nossa herança genética.
Por isso, talvez você até ache, anônimo, pelo que escreveu, que a minha atitude tem grande mérito, que precisa, portanto, ser “diminuída”.
Mas eu, sinceramente, não vejo assim: para mim, o que fiz foi, rigorosamente, normal, dadas as circunstâncias do meu nascimento, da minha criação e, portanto, das condições que ainda tenho.
Quer dizer: as minhas circunstâncias me dizem que se não fizesse o que fiz simplesmente me apequenaria, por não fazer o que tenho, efetivamente, condições de fazer.
E é por isso, também, que mérito têm, em verdade, é a dona Maria e o seu José e os filhos da dona Maria e do seu José quando enfrentam esse Poder que os quer manter, para sempre, na condição de escravos, de serviçais.
Quando saem às ruas – juntos, como um só corpo e uma só alma – e protestam pelos direitos que lhes são negados, há 500 anos, neste país escravocrata.
Quando enfrentam todas as ameaças, as armas dos jagunços e dos coronéis e ocupam a fazenda de um ladrão; e marcham pelas ruas enlameadas, que essa gente que está no poder não destina nem aos seus cachorrinhos de estimação.
Quando dizem, quando gritam: nós não somos bicho! Somos é Cidadãos!...
Mérito têm é esses companheiros da Terra Firme, da Pratinha, do Guamá, do Jurunas, de Belém, de Ananindeua, de Salvaterra, de Soure, de Santarém, de Marabá, de Parauapebas, de Faro, de Curralinho, quando dizem, contra todas as ameaças, contra todos os perigos: esta terra é nossa! Este País nos pertence!
Não, não é de qualquer bandido, de qualquer coronel, de qualquer “barão”; este País pertence, de fato, é a quem trabalha para fazer deste Brasil uma grande Nação!
De minha parte, apenas “peruo” este jogo, anônimo: faço o que tenho de fazer – e que todos os que têm as mesmas condições que tenho deveriam fazer, aliás.
É uma responsabilidade enorme que pesa sobre os filhinhos das classes média e alta, criados, todos, para apenas prosseguirmos com tudo isso; nós, as mulheres, para as “damas” dos “chazinhos beneficentes”; os nossos maridos para os “doutores” dessa “coisa” toda.
A nós, classe média, compete, portanto, essa linha de frente dentro das empresas.
A vocês, da Terra Firme, da Pratinha, do Jurunas, do Guamá, compete a descoberta de que, juntos, têm, de fato, o Poder para transformar tudo isso.
A descoberta de que só vocês é que poderão mudar isso – mas, juntos, porque, isoladamente, é suicídio, tenha certeza, anônimo...
Porque, isoladamente, vai chegar o momento em que você vai ter de optar entre o prato de comida dos seus filhos e a sua convicção – e aí a barra vai pesar!...
E a não ser que você seja um herói genuíno, mas que, por isso mesmo, só existe nas mitologias, você vai ter de se calar, vai ter de se curvar.
A força da Pratinha e da Terra Firme está, portanto, no coletivo, na união.
Na capacidade de pegar um sindicato, por exemplo, e dizer aos patrões: tá bem, a gente entende os interesses de vocês... Mas, nós estamos aqui porque essa categoria e a sociedade que está por trás dela têm interesses infinitamente maiores do que os de vocês. Porque, mais não fosse, tais interesses, os nossos, dizem respeito a um mundo de gente – e não apenas à meia dúzia.
Quanto a mim, mano, sou apenas e tão somente uma “guerrilheira” perdida em alguma floresta, à espera da Revolução que eu sei, no meu íntimo, que virá, nem que seja para ser “experimentada” pelos meus tatatatatataranetos.
E, tenha certeza, poderia ser, hoje, uma “dondoca” – afinal, fui criada para isso; para ser, simplesmente, mais uma “esposa de doutor”.
Mas, sabe mano, de tanto andar pela Pratinha e pela Terra Firme, há uns trinta anos, quando talvez você nem fosse nascido(a), eu acabei me apaixonando desesperadamente pela dona Maria e pelo seu José.
Ouvi tanto e tão atentamente as histórias deles; a maneira como lutavam para sobreviver; as dores que sentiam; as angústias que passavam que só não me tornei igual a eles porque dizer isso seria hipocrisia.
Mas, tenho pela nossa gente, pelo nosso povo um amor infinitamente maior do que, um dia, você, talvez, seja capaz de imaginar.

Obrigada pela atenção, pela visita ao blog.

FUUUUIIIII!!!!!!

Ana Célia Pinheiro disse...

Ao Anônimo das 5:32:

Também vejo essa foto como emblemática – por isso, aliás, coloquei-a no template.
O sexteto extraordinário dessa “Comissão de Frente” é formado por algumas das maiores atrizes deste país – do teatro, do cinema, da televisão.
Estão lá Eva Tudor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengel – creio que é assim que se escreve o Bengel.
De memória, o que me recordo é que Eva foi uma das grandes damas, se não a grande dama, do teatro de revista; li sobre isso, se não estou enganada, na revista Nossa História. Tônia fez carreira no teatro, mas, tornou-se famosa na televisão, ainda na Tupi ou Record, nos tempos do preto e branco. Sobre Eva Wilma não sei muito, além de suas atuações muito boas na televisão. Leila foi um símbolo daqueles tempos – e até do nosso tempo. Já morreu há muito, é verdade, mas ousou tanto em termos de comportamento que se tornou uma “musa atemporal”. Foi várias vezes agredida – gente jogava terra nela, no Rio de Janeiro, quando “ousou” expor o barrigão de grávida nas praias; deu uma entrevista histórica ao Pasquim repleta de palavrões, que levou a que fosse hostilizada em locais públicos; e, sobretudo, sofreu a invasão das peças de que participava, por policiais da ditadura – certa vez, aliás, um deles insistia em prender “um tal de Sófocles”, como ela contou, de forma hilariante, nessa entrevista histórica ao Pasquim – e eu presumo que a peça fosse Antígona, que é, para muito além do complexo edipiano, o mais político dos textos de Sófocles. Lembro de Odete e Norma no cinema – quer dizer, anônimo, lembro, vírgula; porque isso me foi contado pela minha irmã, muitíssimo mais velha, porque eu não tenho idade para me lembrar disso, né mermo?... – se não me falha a memória a Odete fez muitos filmes a partir de textos do “maldito” Plínio Marcos, mas, também, sob a direção do Glauber. Da Norma, o que me lembro é que se notabilizou no cinema – e não sei se isso não aconteceu, também, no teatro, mas, penso que sim – em produções realizadas a partir de textos de outro “maldito”, o Nélson Rodrigues. Lembro que ela causou escândalo ao tirar a roupa em um desses filmes. E, também, que depois a Norma pirou, virou pastora protestante e se “arrependeu” por toda essa filmografia. Todas, enfim, foram mulheres exuberantes, quer do ponto de vista puramente físico, quer pela competência e trajetória. E que vivenciaram a censura, como espécie de “Navalha na Carne”... Não sei quantas delas já morreram – só me lembro bem da Leila. Mas, tenho a impressão de que a Tônia, a Eva Tudor e a Norma também já morreram. Posso procurar alguma coisa na internet, quando estiver com algum tempo. Pra já, você pode clicar na foto pequena, do lado direito do blog, que credita esse “instantâneo” à galeria do Ziraldo.
É, sim, uma foto pra lá de bacana. Quase que feita sob “encomenda” para todos os tempos bicudos, como este que estamos a viver.
Gostei muito, também, dos slogans, especialmente do que manda censurar a “mmmm”.
Por isso, até tirei de lá de cima os temas do blog.
Para não poluir demais a foto, deixei apenas o nome do blog, e num tipo de letra que quase o sacrifica (ao título).
Creio que ficou bacana e muitíssimo atual.
Obrigada pela participação e volte sempre.
Vou tentar recolher informações na internet, até para corrigir informações eventualmente equivocadas, já que escrevi de memória – quer dizer, da memória da minha irmã muitíssimo mais velha...

Ana Célia

Luciane disse...

Muito boa a foto. O blog está mais bonito tb, parabéns! Eu também fiquei empolgada quando aprendi a colocar música e vídeo no meu... srsrsr Abs!

Ana Célia Pinheiro disse...

Pois é, Luciane: com esse negócio de música, que é uma das minhas maiores paixões, eu estou que nem pinto no lixo.

Feliz á beça, porque dá para dividir, efetivamente, emoções.


Beijos, querida!

Ana Célia

MAURO NETO disse...

Cara amiga Ana Célia,
Não mexa com a Pratinha por favor, pois para mim ela é estado de espírito, não é lugar, é paraíso, é pasárgada. Conturbada e pobre talvez, mas de lá eu entendo. Talvez eu não entenda desta classe média boba, frágil e ignorante que tu tanto te orgulhas de fazer parte.Fique com ela então. Mas da Pratinha eu entendo e não mexa com ela, porque o filho da Dona Maria Emília da Pratinha é bom de briga também e aprendeu a ler lá no "Almirante Guillobel". Só que aprendeu a ler mesmo, até nas entrelinhas.
Entendo o teu motivo para sair do jornal. Entendo até essa birra boba com a Nega Rose, a quem eu amo tanto. Só não entendo a burrice de querer desqualificar alguém só porque ela não tem ascendência tão nobre como a que enche teu peito de orgulho. Atitude risível, desde a época da Revolução Francesa. Mas eu não sou um jacobino, para tua sorte.
Por isso esqueça a Pratinha que, com fome ou sem fome, consegue formar cidadãos tão bons como os que moram no Norte Brasileiro. Classe média, blargh!
Quanto a questão de optar entre comer e trabalhar,sugiro que ligues para doutora Jandira lá do Diário ou para o Passarinho (Fernando Nobre) para saber porque eu sai de lá na última vez. Sabe o que eles te dirão: o Mauro Neto entregou o emprego porque faltou uma câmera fotográfica para seu companheiro de equipe. Entregou o lugar e foi embora, sem pedir um tostão do Jader ou de quem quer que fosse. Nunca passei fome por causa daquela decisão, sabe por que? Sou tão competente quanto qualquer jornalista da classe mediazinha, como você, julga ser.
Para tua informação,a Nega Rose - a quem amo tanto mesmo - nunca me ligou para pedir nada como fica implícito no seu post.
Só peço que esqueça a Pratinha.Afinal nasci lá, não dei um passeiozinho há 30 anos por aquelas bandas. Sou muito mais qualificado para criticar a dona Maria ou seu José do que você, com toda certeza.
Desejo-lhe boa sorte na sua nova empreitada, que seja repleta de sucesso. Mas, por favor, esqueça a Pratinha, ela não merece ser foco de alguém tão amplamente competente como você. A Pratinha é dos humildes, dos que têm pé no chão, mas a cabeça erguida. Dos simples, mas não dos simplórios, que acham que, por dominarem um filosofozinho qualquer, se qualificam a ser a palmatória do mundo. No meu mundo, a Pratinha, não, minha nega!
Fuuuuiii... para Pratinha é claro,afinal hoje é Dia das Mães e tenho que dar um beijo na Dona Maria Emília, minha mãe.

MAURO NETO
Pratinhense competente

PS - Gostei deste slogan, vou usar na minha campanha para vereador depois que eu abandonar o jornal em 2070. Já pensou se eu consigo o Cid Moreira para fazer a locução? Se não der, vai o Marquinho Pinheiro mesmo. rsrsrsrs

PS2 - Ainda tenho aquela água benta. Se precisares, posso mandar deixar, ok?

Ana Célia Pinheiro disse...

Querido Mauro Neto:



Li e reli seu comentário e, sinceramente, ainda não entendi o que o motivou.


Ficou-me a impressão de que você não leu o que escrevi. Ou, talvez, que, apesar de ter lido, não entendeu.


Nesse último caso, é possível que a falha tenha sido minha, já que se tratou de uma longa exposição.


Por isso, vou fazer as minhas considerações em forma de tópicos:




1-Em qualquer momento “falei mal” dos cidadãos da Pratinha e da Terra Firme ou a eles me referi de maneira pejorativa. Apenas e tão somente CONSTATEI um fato: o maior “lastro financeiro”, a maior “capacidade econômica” de quem vem da classe média, em relação a quem tem uma origem pobre. Ora, CONSTATAR que alguém tem mais ou menos dinheiro; tem maiores ou menores condições concretas, objetivas, de fazer isso ou aquilo, não expressa um juízo de valor. Em outras palavras: o fato de alguém nascer na Terra Firme ou em Batista Campos; na Pratinha ou em Nazaré, não faz desse alguém melhor ou pior, “bom” ou “mau”. Fosse assim; se houvesse essa relação causal entre origem social e caráter; e se, além dessa relação causal, eu também partisse do suposto de que todos os cidadãos pobres não prestam, eu teria de afirmar, necessariamente, a “canalhice” da maior parte da nossa população e a inexistência de pilantras de “colarinho branco”. O que, você há de convir, é o tipo de coisa que não encontra o mínimo amparo na realidade.




2-Se não há juízo de valor na constatação da menor capacidade financeira de quem nasceu na Terra Firme ou na Pratinha, há, sim, juízo de valor – e um enorme preconceito, diga-se de passagem – de quem toma como “ofensiva” a simples menção de ter nascido nesses bairros. É como se houvesse uma conotação pejorativa “automática”, um “mal intrínseco” em tal menção. Mas, esse “mal intrínseco” não está nessa simples menção. Está, ANTES, é na cabeça da pessoa que se sente diminuída por isso. Ou seja, na cabeça de quem faz essa ligação automática (e subliminar) entre caráter e origem social – uma ligação, diga-se de passagem, fortemente ideológica. Logo, meu amigo, o preconceito está é NA SUA CABEÇA - não na minha. Porque é você quem vê como ofensiva a simples menção à origem pobre de alguém.




3- Vamos supor que eu estivesse, amanhã, novamente a trabalhar num jornalão e que as minhas condições objetivas fossem bem diferentes de agora. Vamos supor que estivesse num contexto adverso: minha família tivesse morrido, meus amigos com alguma condição financeira tivessem me abandonado e eu tivesse arranjado mais dois ou três filhos para criar. Vamos supor, também, que, em tais condições, um jornalão novamente inserisse parágrafos numa matéria assinada por mim. Ora, você há de convir que esse outro contexto, essa outra situação me faria pensar duas ou três vezes antes de mandar o jornalão às favas – aliás, é bem provável que tais circunstâncias até impossibilitassem uma atitude assim. E foi nesse sentido que falei sobre a minha maior possibilidade de tomar uma atitude dessas, hoje, agora, em relação a um cidadão que nasceu lá na Terra Firme ou na Pratinha. É que o meu “lastro financeiro”, a minha “retaguarda”, digamos assim, me permite tomar atitudes que um colega de origem humilde, por mais indignado que esteja, terá muito mais dificuldade em tomar. E tudo isso, querido, é apenas um fato. Quer dizer: novamente, não há, aqui, qualquer juízo de valor.




4- Juízo de valor, Mauro, eu expresso quando digo, como disse naquele post, que alguns dos nossos melhores colegas jornalistas vieram da Terra Firme ou da Pratinha. Ou, quando louvo, como num comentário acima, os cidadãos da Terra Firme e da Pratinha que conseguem concluir um curso superior e arranjar um bom emprego. Em ambas as situações, estou chamando a atenção para o esforço hercúleo dessas pessoas, devido às adversidades que tiveram de enfrentar: trabalhar e estudar ao mesmo tempo; ir pra escola com fome; não ter dinheiro para um livro ou para um par de sapatos; vencer enormes distâncias, na chuva e na lama, entre as casas delas e as paradas de ônibus – quer dizer, quando havia dinheiro para o ônibus, né “mermo”, mano? E como você vê, queridíssimo, também aqui não há qualquer preconceito em relação aos cidadãos da Pratinha e da Terra Firme. Há, sim, é humilde admiração pela “epopéia” que é a vida desses cidadãos...




5- Juízo de valor também faço, querido, quando afirmo encarar como absolutamente normal a atitude que tomei, de mandar às favas o meu emprego em O Liberal. E, de igual forma, quando afirmo que dignas de admiração são as pessoas de origem pobre que têm a coragem de sair às ruas para reivindicar direitos. E por que eu digo isso? Porque, se é verdade que não posso fazer juízo de valor tão somente a partir da origem social de alguém, também é verdade que posso, sim, valorar as atitudes que tomamos em decorrência, ou apesar, das nossas condições objetivas. E, na escala de valores que construo a partir desse raciocínio, penso que muito mais valor têm a dona Maria e o seu José, lá da Pratinha e da Terra Firme, que brigam, que lutam pelos direitos que lhes são negados. Porque eu tenho “retaguarda”, lastro financeiro para fazer o que faço; eles, não.




6- Com tudo isso, meu amigo, espero que você já tenha entendido que não me “gabei” de ter origem na classe média, qual uma aristocrata do Antigo Regime... Até porque não vejo “origem de classe” como qualidade ou defeito; coisa “a favor” ou “contra” quem quer que seja. Como já disse, o preconceito está é NA SUA CABEÇA, não na minha. VOCÊ é que vê o termo “pobre” como pejorativo e o termo “classe média” como espécie de gabolice. Você é que permitiu que a ideologia dominante lhe impregnasse tanto, ao ponto de pensar assim. Portanto, é você quem se diminui; não eu que tento, por acaso, me tornar “melhor” a partir da minha origem social. A referência que fiz está num contexto de possibilidade de ação – e só!




7 – Em qualquer momento, Mauro, deixei “implícito” ou “explícito” que a Rose Gomes telefonou para você - por favor, releia meu post. Nele, digo que o presidente da Fadesp ligou para um diretor e que a Rose ligou para um dos donos do jornal. Portanto, em qualquer momento me referi a você.




8 – Louvo a sua atitude no Diário; para mim, é sinal de grande companheirismo e de grande coragem, já que você, querido, apesar de talvez nem gostar, veio de lá da Pratinha... Agora, Mauro, eu já passei fome – e grávida, num país estranho. Eu, como já disse aqui, já até lavei prato em cozinha de restaurante de bacana, para sobreviver – e não vejo nisso demérito algum. Não fiquei “traumatizada” com isso, nem me sinto “diminuída” por isso. Porque, novamente, não faço “juízo de valor” em relação a quem passa fome: a fome depõe é contra a sociedade - não contra a vítima. Além disso, não é só a “competência” que pesa para que não fiquemos desempregados; pesam sobremaneira, as condições e as demandas do mercado. Até porque, se radicalizássemos esse seu raciocínio, de que ao emprego ou desemprego só pesa a “competência”, acabaríamos chegando à conclusão necessária de que todos os desempregados são incompetentes – e eu imagino que não foi isso que você quis dizer, pois não?...




9 – Por fim, lamento, profundamente, que você encare como uma “birra boba” o fato de eu ter criticado a Rose por ela ter ligado para um dos donos do jornal, para tentar derrubar a matéria que estava fazendo sobre a Fadesp. Deploro, Mauro, que um profissional como você pense assim. Quer dizer, que considere pequena, de somenos importância, uma questão como essa, que envolve, entre outras “birras bobas”, a liberdade de imprensa, a ética profissional e o respeito que tem de permear as relações entre todos nós.





Fico-lhe muita grata, querido, pela atenção.



Abs,



Ana Célia

Anônimo disse...

hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha.

Esse é o Mauro Neto. Nada como o bom humor. Hhahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha.