quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Almir

Para Almir


Almir precisa se aposentar. Constatar que está velho; que ninguém controla a vida, o tempo...

Por mais que queiramos, o mundo vai além de nós.

Ficamos no que fizemos ou não fizemos. E ponto.

Não há, doutor, segundo tempo neste jogo...

Temos, infelizmente, de nos habituar à idéia da finitude...

Jatene, quer ou o senhor queira ou não, é o melhor dentre nós.

De raciocínio rápido – e isso é fundamental – inteligência e QUASE a sua compreensão do mundo.

É o seu herdeiro...

O senhor não gosta dele? Que pena!... Foi o senhor quem nos legou...

Ou o senhor, birrentamente, prefere o bicheiro?

O que o senhor esperava? Que ele vivesse eternamente a sua sombra e não buscasse o próprio espaço?

Que fizesse como todos fazem? Quer dizer, que, simplesmente, se abaixasse?

Mas, que diabo de legado o senhor pretendia deixar a nós?

Gostaria, um dia, de poder conversar com o senhor, do jeito que o senhor diz gostar: olho no olho...

Mas, o senhor foge, não é mermo? ...

Neste jogo, doutor, não dá para ficar ou deixar ficar em compasso de espera.

Como sabe o senhor, mais que ninguém, há que decidir...

E não dá para decidir em cima de considerações subjetivas; de eventuais raivinhas.

Há que fazer o que é preciso, sempre!...

Lhe admiro profundamente e morrerei lhe admirando.

O senhor é para mim, acima de tudo, uma inspiração.

Um ser que me guia. E que sempre me guiará, mesmo quando se for...

Mas, para além do senhor, existe a vida, a necessidade imediata.

A capacidade de ver o estágio em que o nosso povo se encontra.

Isso, doutor, não é nenhuma missão: é política.

É a capacidade de conversar com todo mundo.

A possibilidade de falar com todas as pessoas, sem essa coisa da pré-concepção.

O senhor, sem querer, sem pensar, nos ensinou isso.

Somos, todos, os seus herdeiros. Quer o senhor goste ou não...

2 comentários:

Anônimo disse...

Sou leitor habitual do blog e, hoje pela primeira vez, tenho que concordar com tudo o que você escreveu sobre Almir Gabriel.
Mas, cá pra nós, você tomou uma(s) para inspirar-se?

Anônimo disse...

Adorei o que escrevestes, é de uma clareza, profundidade e verdade incrível.
Penso o mesmo que tu, mas não sei escrever com tanta lucidez!
Parabéns,
Dulce