terça-feira, 14 de novembro de 2006

Uma noite lisboeta, com certeza!

Ai, Mouraria!

Ai, Mouraria!
Da velha rua da Palma,
Onde eu, um dia,
Deixei presa a minha alma,
Por ter passado
Mesmo ao meu lado
Certo fadista
De cor morena,
Boca pequena
E olhar trocista.

Ai, Mouraria!
Do homem do meu encanto
Que me mentia,
Mas que eu adorava tanto.
Amor que o vento,
Como um lamento,
Levou consigo,
Mas que ainda agora
A toda a hora
Trago comigo.

Ai, Mouraria!
Dos rouxinóis nos beirais,
Dos vestidos cor-de-rosa,
Dos pregões tradicionais.
Ai, Mouraria!
Das procissões a passar,
Da Severa, voz saudosa,
Da guitarra a soluçar.

(Amadeu do Vale, Javier Tamames e Frederico Valério)


Novo fado da Severa

Ó rua do capelão,
Juncada de rosmaninho!
Se o meu amor vier cedinho,
Eu beijo as pedras do chão,
Que ele pisar no caminho.

Tenho o destino marcado,
Desde a hora em que te vi!

Ó meu cigano adorado,
Viver abraçada ao fado,
Morrer abraçada a ti!

(Desconhecido)


Uma Casa Portuguesa

Numa casa portuguesa fica bem
Pão e vinho sobre a mesa.
E se à porta humildemente bate alguém,
Senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa franqueza, fica bem,
Que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar, e ficar contente.

Quatro paredes caiadas,
Um cheirinho á alecrim,
Um cacho de uvas doiradas,
Duas rosas num jardim,
Um São José de azulejos
Mais o sol de primavera,
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

No conforto pobrezinho do meu lar,
Há fartura de carinho.
E a cortina da janela é o luar,
Mais o sol que bate nela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
Uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
E um caldo verde, verdinho
A fumegar na tigela.

Quatro paredes caiadas,
Um cheirinho á alecrim,
Um cacho de uvas doiradas,
Duas rosas num jardim,
Um São José de azulejos
Mais o sol de primavera,
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

(Reinaldo Ferreira)


O Pastor

Ai que ninguém volta
Ao que já deixou
Ninguém larga a grande roda
Ninguém sabe onde é que andou

Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou
Aquele menino canta
A cantiga do pastor

Ao largo
Ainda arde
A barca
Da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo
Ainda arde
A barca
Da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria.

(Madredeus)

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