segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Divagando, divagando...


O jogo



A beleza do jogo democrático consiste, justamente, na impossibilidade de impedir aliados e adversários de jogar. O que nos obriga a jogar melhor, e cada vez melhor, do que todos eles.

Isso implica, necessariamente, predisposição a alianças e agilidade para desfazê-las e refazê-las tantas vezes quanto necessário.

Requer atenção, para evitar que algum dos jogadores se cacife em demasia. E para aproveitar as oportunidades, decorrentes de fracionamentos nos terrenos alheios.

É preciso, principalmente, saber até onde se pode ir: não se endividar além do cacife de que se dispõe ou de que se possa vir a dispor. Estar atento, não apenas aos novos aliados, mas, também, aos antigos.

É preciso ter em mente, em suma, que os que vieram a este grande cassino, vieram para jogar. Não são anjos, nem demônios, mas jogadores. Todos com pleno domínio do discurso e das manhas da política. Alguns, por vezes, até mais do que nós...

Todos, portanto, entraram no cassino dispostos a conquistar o máximo. E compete à banca, sutilmente, estabelecer até onde podem ir. Não se pode esperar, simplesmente, que parem. Ou acreditar, ingenuamente, que se contentarão ao atingir um determinado volume de fichas. Todos, se puderem, levarão o cassino pra casa.

Cassino algum pode sobreviver na condição de casa da mãe Joana. Mas, também, não sobrevive com apenas um cliente – ou é feito, apenas, para o dono. É preciso, então, ampliar cada vez mais a clientela, para garantir a sobrevivência. Mas, sem que isso implique perder o controle sobre quem é quem e o que faz ali dentro.

Um bom começo é saber que não se está no terreno do sagrado, mas do profano. Apesar dos propósitos do jogo se afigurarem, por vezes, redencionistas.

E compreender que jogadores são pessoas. Com múltiplas facetas e aspirações – tão diversas quanto os seres humanos. É preciso, portanto, conhecer as motivações de cada qual, bem como as capacidades e fragilidades que apresentam. Isso inclui não apenas os aliados e os adversários. Mas, sobretudo, nós mesmos.



Se Ana Júlia tiver isso em mente, já será o suficiente para que possa ensaiar um belo sapateado de catita. E ela vai precisar disso, para o jogo que tem pela frente.

A segmentação petista, por si só, já é capaz de provocar grandes dores de cabeça. O que dizer, então, das alianças que estão postas e das que terão de ser conquistadas, para possibilitar a governabilidade?

Infelizmente, o PT, assim como o PSDB, ainda não conseguiu encontrar um meio-termo entre o pragmatismo e o messianismo – duas pragas que complicam, sobremaneira, a costura de eventuais alianças.

Mas, enquanto o PSDB, apesar do inchaço fisiológico, conseguiu construir uma certa unidade pública, o PT segue a se estapear publicamente. E, na maioria das vezes, acaba se tornando seu maior e mais feroz adversário.

Poder-se-ia argumentar que é assim, porque é um partido democrático. Mas, isso é lári-lári. Porque, quando é preciso, também sabe engolir, caladinho, decisões de cima pra baixo.

Em verdade, a questão central é encontrar os limites éticos e democráticos para a conquista e manutenção do poder. A harmonia entre a nobreza dos fins e os meios – jamais tão nobres assim – que terão de ser utilizados.

É uma lição de casa que o PT ainda não conseguiu fazer. E na qual o partido-irmão, o PSDB, pelo menos no Pará, acabou, vergonhosamente, reprovado.

Torço para que o PT tenha aprendido com os erros nacionais e com os erros do partido-irmão, aqui no Pará.

E para que, um dia, PT e PSDB compreendam o mal que causam à sociedade, com essa disputa feroz e narcisista, que nos impede de avançar em discussões tão importantes, para a cristalização da ética e da democracia na política brasileira.



Não tenho procuração para defender Ana Júlia – nem tenho por que fazê-lo. Afinal, ela é maior, vacinada e possui muito mais poder do que eu, que sou um zero à esquerda no jogo político.

No entanto, fico indignada com algumas colocações que são feitas por aí, acerca do futuro governo dela. Não apenas porque votei nela. Mas, principalmente, porque o ranço machista dessas colocações é ofensivo a todas as mulheres.

Antes de Ana ser eleita, a argumentação dessas pessoas era a de que é despreparada. E eu até já escrevi, neste blog, sobre isso.

Não acho que Ana seja um Einstein de saias – nem perto disso. Mas, burra, ela não é. É sagaz, tem jogo de cintura, o que requer inteligência.

È verdade que poderia ter estudado, lido mais, ao menos para ter mais segurança daquilo que diz. Mas, isso a coloca, apenas, na média dos políticos brasileiros - não abaixo disso. E não é nada assim tão complicado que uma boa assessoria não possa resolver.

Lembro que quando escrevi sobre essas acusações, apontei o machismo nelas contido.

É que de nós, mulheres, se exige, sempre, que sejamos ultra, super e coisa e tal. Como se o triunfo, para nós, fosse, sempre, decorrente de exceções.

Nunca vi alguém chamar de despreparado um triunfante homem médio. Mesmo os francamente imbecis, sórdidos, ordinários, venais, execráveis, canalhas se transformam, magicamente, em excêntricos – não em, ofensivamente, despreparados.

Ou seja: se não formos uma exceção, plástica ou cognitiva, temos mais é de nos recolher à insignificância da “condição feminina”... É o caso de se perguntar: de que árvore caíram esses animais?



Bom, esse negócio de despreparo era antes de Ana ser eleita. Agora, o que se fala é de uma extensão desse despreparo. Diz-se que será refém de Jader, rainha da Inglaterra e etc e tal.

E eu reviro a memória, mas não recordo de uma única vez em que alguém tenha afirmado que o Dudurudu é refém da bancada majoritária, na Câmara, ou de Jatene. Aliás, não me recordo de qualquer prefeito paraense a quem se tenha impingido tal pecha. Muito menos, de um governador de Estado.

Não quero ser maçante, mas tudo isso é grego. Remonta há 2.500 anos, quando a “areté” (mal traduzida por virtude; melhor compreendida por excelência) das mulheres era a beleza e competência doméstica; ao passo que a “areté” masculina era, nos tempos homéricos, aquele conjunto de qualidades que voltaremos a encontrar na idade média: coragem, força, nobreza.

Não vou discorrer, aqui, sobre as mudanças no conceito de “areté”, ao longo da evolução da sociedade grega. Basta que compreendamos que nada disso é novo. O pensamento que está na raiz é, antes, profundamente arcaico. Os papéis sociais, do macho e da fêmea, ali definidos, estão, ainda, profundamente enraizados na sociedade Ocidental.

Logo, quando se faz de Ana Júlia refém de Jader, faz-se dela a “donzela aprisionada na torre”. A Penélope bordadeira à espera de Ulisses. Psicanaliticamente, pensar-se-ia, em seguida, na “espada salvadora”. Ou seja, a fala dessas pessoas é de um primitivismo brutal. Não sei se, de caso pensado, para manipular arquétipos. Ou se, simplesmente, porque ainda se encontram aprisionadas, mentalmente, nos primórdios da civilização.

Enfim, nada de tão espantoso num estado tão machista quanto o Pará.

Num post anterior, aliás, eu já mencionava a nossa falta de “heroínas” – diferentemente do que vemos, historicamente, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, por exemplo.

Nada que não possa ser perfeitamente explicável pela condição de “uso”, que as mulheres, aqui, sempre tiveram. Herança portuguesa? Sei lá. O que causa espanto é ver tal pensamento reproduzido por intelectuais.

Mas isso, talvez, também possa ser compreendido pela falta de leitura de muitos a quem chamamos, aqui, intelectuais. Que, mais das vezes, nunca conseguiram acabar nem livro didático. E do primeiro grau.

Cansei de divagar. Vou tomar uma. FUUUUUIIIIII!!!!!

6 comentários:

Anônimo disse...

Tá mais do que na cara que o vc quer mesmo é um bom DAS da Ana Júlia.
Igualzinho aquele que a Valéria deu pra você no início desse governo, e depois, a seu pedido ainda lhe deu mais um up grade.
Essa pererequinha é viva mesmo hein!!
Na certa quer trocar de lambreta.hehehehehehe

Anônimo disse...

Duas observações: adorei o texto e, em relação aos comentários da postagem anterior, penso que algumas pessoas tratam jornalistas como atores/atrizes de novela. O jornalista cumpre seu papel quando escreve textos de denúncia, está exercendo sua liberdade quando resolve mudar de emprego, etc e tal. Agora se alguns jornalistas violam o Código de Ética ou cometem algum tipo de crime, é da competência dos órgãos responsáveis apurar e punir.
Um abraço e fico feliz com a sua volta, voltou cheia de gás.
Lu.

Anônimo disse...

Olá, Ana Célia,

Sobre políticas culturais, indico o blog do Prof. Dr. Fábio Castro, do curso de Comunicação Social da UFPA:

www.hupomnemata.blogspot.com.

Sugiro especialmente a leitura das duas primeiras postagens:
"Os 10 pecados da política cultural do PSDB no Pará - Introdução" e "Primeiro Pecado: Elitismo".

Abs,

Luciane.

Anônimo disse...

Parabéns! Seus textos são ótimos, me prenderam por 4hs na frente do computador sem me deixar fazer mais nada.Parabéns pela coragem e ousadia..e continue sempre assim lutando por seus ideais.
Isabela Lima

Anônimo disse...

Eu de novo...

Prezada Ana Célia.
Quero lhe convocar para participar da campanha do profº Fábio Castro, do Dep. de Comunicação da UFPA, encabeçada por mim. Seguindo sugestão dele, estou chamando colaboradores blogueiros para redigirmos um texto com "10 desejáveis virtudes para a política cultural do PT no Estado". Cinco pessoas já confirmaram a participação.
Como o profº escreveu sobre os "10 pecados da política cultural do PSDB" , uma primorosa análise, será construtivo elaborarmos os textos com as virtudes, não acha?
Ficarei satisfeita de poder contar com a sua colaboração nessa empreitada. Caso aceite, me avise sobre o tema escolhido e depois mande o texto até o final do mês para o meu blog ou por e-mail (lucianefiuza@gmail.com).
Um abraço! Luciane.
Ps: Os "pecados" estão publicados no blog do profº Fábio.

Anônimo disse...

Vc diz que nãoconhece ninguém mais petista que o Paulo Roberto e nem mais tucana que vc e quer que acreditemos que vc votou na Ana JUlia. O que vc quer nós sabemos, mas, vc não ganhará nenhum DAS filhinha...